sábado, novembro 19, 2005

Porque Angélica não traga

Um conto de porte médio, por isso, postado em 2 partes.
Recomenda-se a leitura do conto "A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa no Livro Sagarana

- Angélica, não traga.
Mas ela trouxe. Angélica, teimosa, trouxe seus cigarros para a festa de 15 anos de Mônica. Trouxe também um isqueiro, daqueles prateados, quadrados, com tampa. Aqueles lábios com batom rosa e um cigarro aceso incomodavam:
- E o diabo dessa menina num tem mãe, não?
Tinha 12 anos e um celular no bolso da saia. O cigarro tratou de apresentá-la à Renata e a todo o 3º ano da Escola Nossa Senhora das Dores. Não queria amizades com as crianças da 6ª série. Bando de lactantes: eles ainda jogam Banco Imobiliário.
E na festa de Mônica, Renata também apareceu.
- Angel, me passa um careta, fazendo o favor.
- E você fuma, Renata?
- Ah!, Mônica, eu fumo, mas não trago... Quem traz é a Angélica...
O sonho de todo garoto da Escola era ser amigo de Angélica. Os olhinhos puxados sempre escondidos atrás do Ray-Ban de lentes verdes. Ele era linda, tinha o corpo imaturo, o aspecto infantil.
- Angélica, posso conversar contigo?
E após uma pausa e um olhar de desdém:
- Não.
Um não sereno como uma facada lenta em um corpo adormecido - perfura a alma. De fato, a tristeza sempre vinha acompanhar por, pelo menos, três dias os que tentavam uma aproximação. Para as outras meninas restava a inveja.
Como os pais de Leonardo tiveram de viajar e a oportunidade que faz o oportunista, uma festa foi planejada. Todos os patuscos do 3º ano iriam e Angélica era a princesinha no meio deles. Vodka, Rum, Sukita, Coca-cola e cachaça. E várias esfirras do Habib´s porque eram baratas. Bêbada e ridícula, ... ... ...

Onde estão meus chinelos?

Minha primeira redação com conceito "E" na Escola
Recomenda-se a leitura do conto "O Relógio de Hospital", de Graciliano Ramos

A vontade do homem é ilimitada, mas a condição humana impõe seus interditos deixando-o em conflito permanente. Ele sempre quer mais, quer ir além, "plus ultra"; no entanto, está submetido a leis naturais e regras que não permitem sua ascenção infinita.
A Baleia, personagem de "Vidas Secas" e protagonista do conto que deu origem ao romance, é humanizada na medida em que sente desejos, sonha com uma realidade melhor para si. Esta é a característica humano maior: não se contentar com o que possui.
A vida humana, porém, não é suficiente para se alcançar todos os sonhos. A morte, a doença, o medo e, nos tempos atuais, até a condição financeira impossibilitam o ser humano de realizar seus anseios.
Assim, vendo-se limitado e querendo superar esses limites, ele cria a idéia de vida após a morte. Ele tenta de todas as formas não se dar por vencido. Não obstante, a natureza implacável não nos deixa formas de fuga do destino.
Somos seres de mente ilimitada e cheios de ânsia pelo eterno. Somos também seres condicionados a um corpo perecível. Por isso, mesmo que queiramos levantar da cama e seguir adiante, "uma fraqueza nos paralisa" e notamos que ainda "não nos trouxeram os chinelos".

Porque são achados grãos de pólen junto aos fósseis de Homens de Neandertal

Na origem do sentimento humano
Quando os homens pegavam seus defuntos
Reunidos em torno todos juntos
Cobriam todo o corpo do decano

Com lágrimas, com flores e um pano
Vivendo o mistério de assuntos
Como a morte, como tudo de rejuntos
Na argamassa do sonho e do insano

A nós que perseguimos o ideal
Por mais que os fantasmas nos assolem
Buscamos sempre mais e mais e mal

A nossa história acaba sem final
Por isso, se encontram grãos de pólen
Perto dos Homens de Neandertal