Foi quando as cinzas do cigarro ficaram tão grandes a ponte de não se sustentarem no filtro que ele notou: é preciso fazer algo. O quê, ele não sabia; mas sentia uma vontade tamanha de agir de alguma maneira útil. Ponteiros andavam, pra lá e pra cá, e tempo sóbrio caminhava em passo de estrada pelas ruas da angústia e da agonia. E se acendesse outro cigarro?
Acendeu-o e tragou. Quantas caras ainda mereciam uma baforada e não houvera um só pé-de-pessoa ousado a dá-la! O dito cujo pensou que talvez ele pudesse fazer algo. Não era muito dado a falta de educação. Cidadão honrado, bem casado e com filhos. O que iriam dizer se o vissem a dar baforadas na caras de homens de bem que andavam pelas avenidas? "Ficara louco, coitado! E que será da mulher e dos filhos?" E caminhava agora a reunir as cinzas em seu próprio bico. Sentou no bar, um litro de Red Label, por favor, água de côco e muito gelo. Queria esfriar ou até mesmo congelar aquela vontade de vontade. Fazer algo... Fazer algo? Para que diabos fazer algo? Prefiro a inércia.
E quando o litro acabou, foi ao banheiro. Vomitou um pouco, urinou fora do mictório e lavou as mãos e o rosto. Ao se olhar no espelho, viu o espectro da tormenta. Que fazia consigo? Era útil e além do mais bêbado e fumante. Seu lábio pendia da boca e já alcançava o queixo. Olhos baixos, quase vermelhos e vômito na privada. A carteira, havia perdido. Não era ninguém, não via ninguém, não queria ninguém. E foi ali no banheiro, cheio de vômito, urina, espelho, privada, azulejo e ninguém, que ele pensou que poderia ser útil, que ele pensou que o melhor a fazer era comprar mais whisky.
domingo, fevereiro 26, 2006
sábado, janeiro 21, 2006
Ausências...
quais as ausências mais sentidas?
quem faz falta na falta de memória?
que angústia tão vazia entra pra história?
quantas são as valas e as vidas?
buracos... vagas... solidões colhidas
jardins sem flores nem escória
lixo e fedentina transitória
cheiros, odores, perfume da Adidas
sei lá... só sei q sinto falta de alguma coisa...
quem faz falta na falta de memória?
que angústia tão vazia entra pra história?
quantas são as valas e as vidas?
buracos... vagas... solidões colhidas
jardins sem flores nem escória
lixo e fedentina transitória
cheiros, odores, perfume da Adidas
sei lá... só sei q sinto falta de alguma coisa...
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