quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Supérfulos

Aristides entrou em casa, olhou o jardim e gritou desesperado:
- Que fizeram com minha planta?
Aquela era a única espécie da região. Ela a comprara em uma viagem à Capital há três anos. O vegetal adaptou-se ao clima semi-árido sem reclamações. Olhando a planta, via-se que o atentado não era de cunho pessoal: roubara-se apenas os galhos.
Aristides morava apenas com sua avó paterna. Cega e coxa, já não tinha possibilidades de fazer outra coisa senão escutar no rádio músicas que lhe lembravam a primeira eucaristia. O velho terço de madeira fora perdido e sua vista ineficiente tornou as chances de encontro diminutas. Não havia dúvidas: a velha nada tinha haver com o furto.
Cabe ressaltar que os ganhos com a venda de folhas haviam dado ao infeliz grandes artifícios de proteção. Ao mínimo toque nos muros da residência, eram ativados dispositivos geradores de dor, sangue, morte e ranger de dentes. Se por acaso algum paranormal conseguisse chegar ao topo da parede sem tocá-la, a cerca elétrica o pararia. Até mesmo se conseguisse ultrapassar o obstáculo em um só pulo, os raios infra-vermelhos ligados do telhado ao muro ordenariam a cinqüenta fuzis o estralhaçamento total do indivíduo, controlado de modo que nenhuma gotícula de sangue toque a planta sagrada.
Inaudito furto. Aristides mesmo se utilizando do monopólio nunca esqueceu-se das leis de oferta e procura. Tinha a inútil preocupação de não colocar muitas folhas no mercado temendo a baixa dos preços, mesmo sendo ele o seu único impositor.
Resolveu-se então subornar alguns cientistas para realizarem exames de impressão digital no vegetal ilegal e em toda a população local. Encontrou-se então na pracinha um maconheirozinho qualquer, personagem muito comum no logradouro após a viagem de volta de Aristides, e definiu-se pois nele o audacioso autor do crime.
Diante de tal façanha, receiando que a polícia estadual descobrisse seu modo de subsistêncua, o "agricultor" limitou-se a perguntar como ele conseguira realizar o ato famaz.
- Entrei na casa normalmente e peguei o que precisava.
Dessa forma foi que Aristides notou que na sua casa não havia porta.

Moral: "Tem gente que se preocupa com os galhos, pois não sabe que é no tronco que está o coringa do baralho" (Raul Seixas)

O tamanduá e o bezerro, fábula infantil

Encarceraldo era um bezerrinho maroto. Não obstante isso, todo domingo ia à lagoa Igrejiaçu para beber água e assistir à missa do Peixe-espadre, o sacerdote da fazenda. Ele, o bezerro, se orgulhava de morar naquele recanto onde podia pastar o dia inteiro sem incômodos; visto que o dono da fazenda, bicho-homem, sempre estava disposto a protegê-lo com sua espingarda de cano duplo.
Todo dia, um certo tamanduá que tinha por nome Parcimonioso passava ao redor da fazenda e escutava os orgulhos os quais Encarceraldo forcejava por trazer a insulto.
- Nada melhor que minha fazenda. Tenho proteção, água, carinho. Isso é um sonho. É muito diferente dessa vida selvagem de um comedor de formigas...
Parciomonioso, Niozinho para os mais chegados, não saiu de sua sobriedade e permanecia em silêncio diante dos regozijos do bezerro. Ele era um sábio, creio. Só não usava óculos porque formiga faz bem pra vista.
Certa época, porém, uma intensa seca sobreveio à região. Em dois tempos, a lagoa secou; em quatro tempos, o Peixe-espadre morreu; e, em oito tempos, o bicho-homem foi embora para a cidade grande. Sozinho, sem água e comida, Encarceraldo falecia em frente ao tão achincoalhado Niozinho. Então, o tamanduá entrou na fazenda e jogou aquela carcaça fora. De agora em diante, a fazenda tinha outro dono.
Parcimonioso dormia no aconchego da fazenda e de manhã ia atrás de comer formigas - por que não? - algumas fêmeas de sua espécie, coisa que o solitário Encarceraldo nunca soube o que é.

Moral 1: A verdadeira liberdade não é está dentro ou fora da fazenda, mas é entrar e sair a hora que bem entender.

Moral 2: Quem não tem fêmea se contenta com água e capim.

Cotidiano africano

O quadro branco em minha mente solitária
Lembra-me fatos que o sangue não lavou
E na janela, a guarra revolucionária
Faz um poema com verdade e rancor

Melancolia em meus óculos escuros
A minha alma afogada e amarela
Não detecta quem são os homens puros
E lambe os ossos existentes na tijela

Um leopardo fugindo do seu destino
Cruza a ponte que conduz à salvação
E lá de cima desce a águia e um menino
Com asas fortes construídas com latão

O tempo é curto, o peito é firme, a veia é frágil
Rompe-se! Explode a existência pelo ar
A força ativa junto a espada ágil
É a gravidade desse sistema solar

Das Reich des Teufels

Texto de autoria minha em parceria com Afonso Roberto

Das Blut sprieβt auf dem Garten von Gott
Es verkündet die Macht vom Tod
Und der Teufel gegebener Hände mit dem Stern
Kupiet weintrauben und er beginnt zu feiern
Macht die Lampen aus und zerstört die Uhr
Reiβt die neve Hose und wieder macht die Frisur
Sein Mut ist warmer als Kaffe
Lacht noch und schreit für all seine Idee
,,Ich bin der König, du weiβt das, Mann
Ich bin das Gesetz, nur ich befehle, nur ich kann!"
Und werfen in unseren Augen die Wirklichkeit
Wir besteigen die Berge von der Krankheit
Ich will Schach spielen und nicht bitten
Ich will alles vergessen und nichts bieten
Die küche von Hölle ist ein Schiff
Sie kocht Wurst und schreibt eine Brief
Adressierte zu den bewuβten Männern, das werden sterben
Noch Pferde noch Hakenkreuze bewahren ihre Leben