quinta-feira, janeiro 24, 2008

Soneto da otária

Tomou a paciente para otária
E disse na axila o que havia
Não era mama supranumemária
Nem tampouco era a tal polimastia

Confundiram com sintomas de malária
E de noite, já defunta, toda fria
Lhe chuparam toda glândula mamária
E os mamilos dessa pobre moça esguia

Prescrutando toda a área do pudendo
Eis que acharam o seu hímem cibriforme
E entre pêlos lhe acharam o clitóris

Na nefasta provação que segue sendo
Lhe notaram que um lábio era enorme
E sugaram outros lábios bem menores

A mulher de verdade

A mulher é a criação de Deus mais primorosa. Não a menina, mas a mulher de verdade. A mulher quase inalcançável, que se apresenta em nossos sonhos, que não se deixa submeter por homem algum, que apaixona e não se apaixona, que por mais que subamos os degraus da vida sempre parece estar um nível acima. A mulher de blush, salto e himmel. Aquela mulher que é a maçã mais alta da macieira. Todos vêem e ninguém detem. Que não se ajoelha nem na Santa Missa.

Existem meninas por aí que tentam se esconder por trás de frases de repulsa, mas que cedem. "Não venha me queixar", como dizem as cearense. "Só fico com homens mais velhos", a que já se revela. A mulher de verdade não fica com homem algum. E se fica, não revela, ninguém sabe. "Só fico com intelectuais" e faz-me rir e nem comento. Inteligência não se diz, não se mede; se demonstra, se planta, se colhe, se produz. Essas daí só servem de fundamento e refúgio para o consolo dos fracos, que põem a culpa dos seus insucessos na ausência de dinheiro e automóvel. A menina conquistável se conquista pelo metódo, de forma pragmática. No entanto, não é dessa que me refiro. Refiro-me, sim, a mulher de verdade. Aquela que não atende a apelos. Aquela que faria qualquer favor do mundo, mas ninguém tem coragem de lhe pedir.

A mulher de verdade é firme e confiante. Não tem receio da companhia masculina porque tem certeza que de ninguém se atreveria a algo a mais do que a companhia. A mulher de verdade é sempre mulher casada, mas não usa nem marido nem aliança. Aquela que não trai a si mesma, a suas convicções mais íntimas, a seus dogmas. A mulher de verdade é por natureza misteriosa. E a cada mistério do Terço contemplamos sua face. É aquela de Bilac, é aquela de Camões, é aquela dos poetas que morreram de amor. Aquela que não se encanta com rosas nem com poemas. A mulher de verdade está sempre de óculos, estando carregando ou não alguma lente sobre o nariz. Tem um olhar indecifrável, ninguém conhece suas intenções e nem pode conhecer.

A mulher de verdade é boa mãe, apesar de ser virgem. Ela valoriza cada uma das 6 letras da palavra Mulher e quando assopra deixa o ar mais sublime. Seu perfume não é descritível nem Descritiva. Não obstante isso tudo, penso diariamente que as minhas paralelas ainda se cruzaram no coração dessa mulher.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Caminhos in versos

Quando o mundo inteiro aponta estranha seta
E o outro mundo inteiro toma nota
Quando sabe ao certo a direção correta
E o sábio vem dizer todo janota

Que seguir a multidão é ser pateta
Bom da vida é seguir a nova rota
Alisando suas barbas de profeta
E pagando das cachaças sua cota

Não ouvir essas besteiras de poeta
Botando a calça e até calçando a bota
Costurando na fazenda mais discreta
As cabeças desse gado que se esgota

Nos perigos de se ser um mente aberta
(Bem menores do que os de abrir a porta)
Se constrói pouco a pouco a rota certa
Já cortada por atalhos que se corta

Nos retalhos que se compra por oferta
Nesse bolo ou estrada que é torta
No momento em que o coração se aperta
Dilatando em latas toda a artéria aorta

É que vemos que a estrada mais deserta
São desertos em que a própria mãe aborta
E se olharmos com o olhar do mais alerta
Notaremos pelos becos gente morta

Nas entranhas dessa gente que não presta
Nos joelhos dessa gente se prosta
Nesse mundo, quem enfrenta fica a testa
Mas quem foge, o covarde, fica a costa

Que um tiro, nesse fôlego que resta
Derradeira convulsão do que se gosta
Não transforme essas fezes numa festa
Nem transforme minha torta em pura bosta

Na passagem dessa vida tão funesta
Na postagem que correio nenhum posta
Entre a vida e a morte, parto desta
Pois daquela já no parto se desgosta!

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Smegma

Eterna desavença

Depois de acabar com a formiga
A cigarra foi embora em paz
Cabreira e olhando para trás


Medo de água

O cavalo montado sobre o sertanejo
Olhava o sertão tão seco
Que resolveu ficar por lá mesmo


Paladar aguçado

O cachorro exigente não queria picanha
Ficou no canto do quintal e latiu
Só como hoje se for macaxeira frita


Bicho esperto

O calango cinza era mais camaleão
Só andava em muro chapiscado
Não queria dar bandeira


Transferência de temperatura

O químico idiota passou meia hora pensando
Não sabia explicar como existia
Água quente e gelada no mesmo bebedouro