Aristides entrou em casa, olhou o jardim e gritou desesperado:
- Que fizeram com minha planta?
Aquela era a única espécie da região. Ela a comprara em uma viagem à Capital há três anos. O vegetal adaptou-se ao clima semi-árido sem reclamações. Olhando a planta, via-se que o atentado não era de cunho pessoal: roubara-se apenas os galhos.
Aristides morava apenas com sua avó paterna. Cega e coxa, já não tinha possibilidades de fazer outra coisa senão escutar no rádio músicas que lhe lembravam a primeira eucaristia. O velho terço de madeira fora perdido e sua vista ineficiente tornou as chances de encontro diminutas. Não havia dúvidas: a velha nada tinha haver com o furto.
Cabe ressaltar que os ganhos com a venda de folhas haviam dado ao infeliz grandes artifícios de proteção. Ao mínimo toque nos muros da residência, eram ativados dispositivos geradores de dor, sangue, morte e ranger de dentes. Se por acaso algum paranormal conseguisse chegar ao topo da parede sem tocá-la, a cerca elétrica o pararia. Até mesmo se conseguisse ultrapassar o obstáculo em um só pulo, os raios infra-vermelhos ligados do telhado ao muro ordenariam a cinqüenta fuzis o estralhaçamento total do indivíduo, controlado de modo que nenhuma gotícula de sangue toque a planta sagrada.
Inaudito furto. Aristides mesmo se utilizando do monopólio nunca esqueceu-se das leis de oferta e procura. Tinha a inútil preocupação de não colocar muitas folhas no mercado temendo a baixa dos preços, mesmo sendo ele o seu único impositor.
Resolveu-se então subornar alguns cientistas para realizarem exames de impressão digital no vegetal ilegal e em toda a população local. Encontrou-se então na pracinha um maconheirozinho qualquer, personagem muito comum no logradouro após a viagem de volta de Aristides, e definiu-se pois nele o audacioso autor do crime.
Diante de tal façanha, receiando que a polícia estadual descobrisse seu modo de subsistêncua, o "agricultor" limitou-se a perguntar como ele conseguira realizar o ato famaz.
- Entrei na casa normalmente e peguei o que precisava.
Dessa forma foi que Aristides notou que na sua casa não havia porta.
Moral: "Tem gente que se preocupa com os galhos, pois não sabe que é no tronco que está o coringa do baralho" (Raul Seixas)
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
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Um comentário:
hieiurhaeiurhiear
muito comedia oh
adorei teu blog
XDDDDD
/alsf
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