[...] Bêbada e ridícula, Angélica se entregou ao sexo oral. A tecnologia a serviço do demônio, pois coisa de Deus não havia de ser: Sony Cybershot 5.1 megapixels e Internet.
Depois de uma semana, toda a juventude do Jardim São Tomé e da Escola Nossa Senhora das Dores tinha as malditas fotos salvas em alguma pasta, escondida ou não, dos seus computadores. E o que era Angélica agora? Angélica não era Angélica, não era nada. Angélica era Gegel, Gegel Bola-gato, da Festa do Leonardo e das fotos na Internet.
Um desespero forte que pode fazer cortar os pulsos dominava Angélica. Rejeição, desprezo, desdém, motejos: esse era o novo mundo da princesinha do Ray-Ban, agora meio enferrujado com as lágrimas. Os olhos puxados não agüentavam mais chorar e o lábio era morto, calado, sem vida, sem batom, sem palavra.
Procurou seus cigarros. Mas pra quê? Não era vício, era moda, era um modo. Um modo de se aproximar dos mais velhos, de parecer mais velha, de ser superior, de ser notada. Não fazia sentido mais. Tanta carência de afeto...
- E o diabo desse menina não tem mãe, não?
Ter, tem, mas é como se não tivesse. Trabalha e namora muito, mal fica em casa. Angélica pegou de seus cigarros e do isqueiro e desatou a andar pela rua queimando-os. Sentado na calçada, lendo uns poemas de Manoel de Barros, seu Augusto aconselhou:
- Menina, não trague mais esses cigarros, não...
- Eu não trago mais.
- Pois você faz é bem. Olha que esses tragos só fazem mal pra gente.
- Eu sei, seu Augusto.
E após uma pausa e um olhar para si mesma, ela repitiu convicta:
- Eu sei...
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário