Pedrinho estava completando cinco anos de alegra e inocente existência. A família reunida na mesa para o desjejum recordava os momentos de intensa emoção vividos desde a vinda do tão esperado menino. De fato, o casal Paula e Roberto tinham gerado anteriormente duas meninas que naquela data eram já moças bonitas e simpáticas. Depois de pão, leite, café, geleia e frutas; os cinco iniciaram a viagem, Seu Roberto no volante, rumo ao interior do estado, rumo à casa da Vovó Augusta.
Na chegada, abraços, arroz e capote. Dona Paula tomou do aniversariante, deitou com ele na rede e ali dormiu tranqüila. As moças conversavam. Aqui o céu é mais azul, olha o bezerro mamando, olha a galinha, que galinha esperta... Falavam de Frederica, a galinha de bigodes. O negro que lhe coloria a região acima do bico renderam-lhe a fama e o pseudônimo. E a tarde passou como o vento do sertão.
Quando o preto dos bigodes de Frederica dominou o céu sendo pingados aqui e ali por estrelinhas, a comemoração da data natalícia de Pedrinho teve início. O menino pegou um pouco de pipocas e desatou a pular, comer e brincar pelo sítio. De repente, deu de cara com a galinha famaz.
Ela, diferentemente das demais, mostrando-se sem temor, interagiu com a diversão do pequeno e ganhou-lhe a amizade. Usando de sua sensibilidade infantil, Pedrinho pegou todo o milho e começou a jogá-lo para o alto e a dá-lo no bico de Frederica que os comia sem receios. Outros galináceos se ajuntaram e participaram da divisão do milho.
Depois de muita estripulia, Pedrinho se viu cansado e voltou para junto da mesa onde estavam seus familiares.
- Mãe, eu quero pipoca.
- Meu filho, a pipoca já acabou...
- Mas, mãe, eu quero! eu quero...
- Não há mais.
E o barulho daquele choro ecoou por todo espaço celeste sertanejo. Eu quero, eu quero, eu quero. Dona Augusta, em sua sabedoria de avó, colocou o menino no seu carinho:
- Vem cá pro colinho da vovó...
E com aqueles afagos e carícias, o volume do choro foi diminuindo até ruídos quase inaudíveis. Então, a sábia falou:
- Meu neto, meu tão pequeno neto, aprenda desde já uma coisa pra tua vida: quando acaba o milho, acaba também a pipoca...
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