terça-feira, agosto 30, 2005

Pago o que devo

Na lanchonete que há ali na esquina
Os bons ateus se unem na patota
Cada um deles bebe sua cota
Cada um deles conta sua sina

A Bíblia Sacra é bastante fina
Na discurssão que a mocidade adota
A caçoada nunca se esgota
A gargalhada logo desatina

Realidade! É o que eu tenho visto
Na lanchonete que a rua conduz
Como eu não bebo, eu só peço um misto

Queijo, presunto e o velho "orange juice"
Esse é meu modo de pagar a Cristo
Tudo que Judas deve a Deus Jesus

O que houve?

Certo que foi a ida ao cemitério
Foi a morte imersa nesse frio
Minha alma imersa no sombrio
Minha mente imersa no mistério

Foi uma face de um esqueleto sério
Um cérebro jogado no vazio
Os ossinhos de cadela no cio
Foi uma foice que lhe atinge e fere-o

As pegadas de porcos pelo chão
O fartum. O odor de sangue e pus
Plainava sobre a vela do caixão

Foi isso que tirou do sol a luz
Foi isso que empregou a negridão
Medo que rasga nossos céus azuis...

Drogadição

O sono do narcótico, o prazer
Fumaça da pedra de crack acesa
Carreira de pó branco sobre a mesa
Muito whisky com gelo pra beber

Maconha na cartilha do ABC
Um chá de cogumelos na certeza
De não mais encontrar a velha obesa
Da qual comprou seu LSD

A noite que disfarça seu estado
Vagas percorrem seus olhos vermelhos
Os olhos do mais obediente gado

A mãe não tem palavras nem joelhos
E o valor da vida pro drogado
Não passa de vidraças e espelhos

quarta-feira, agosto 03, 2005

Uma cena

Vomitou seguidamente na telha
A chuva lhe caía na corcunda
E caminhava pela água imunda
Que lhe molhava a boca e a guedelha

Desesperado - à guisa de fedelha
Eis que se viu a escorrer da bunda
O pedaço de fezes que afunda
E que apaga a última centelha

E vendo um rato a lhe roer o saco
Como humano que do lixo almoça
E da muxiba, só degluti um naco

Cambaleando, ele cai na fossa
Em seus ouvidos só se escuta: "Fraco!"
E são ols ratos que lhe fazem troça