quinta-feira, novembro 22, 2007

Confissão do bom marido

É de muito bom alvitre que se diga
Dos amores que a vida tem me dado
Apesar de estar sempre ao teu lado
Também estive ao lado de alguma amiga

Não obstante a aliança no meu dedo
Entrelacei os mesmos dedos noutra mão
E mesmo dando inteiro a ti meu coração
Em outros peitos que eu guardei o meu segredo

Os anos findam e não se morre assim, querida
E te revelo para as tuas amarguras
Que realmente vivi outras aventuras
E nesses anos uma paixão foi escondida

Sabe o café ali na Praça da Cascata?
Eu te confesso que o que sempre me atraía
Não foi o jogo, o xadrez ou o meio-dia
Nem tampouco era o café... Era a mulata!

E aquela preta que aqui em casa trabalhava?
Não ficou pela faxina ou pelo almoço
Até mesmo já me deu arroz insosso
Mas ficou por outra coisa que me dava...

E aquele tempo que era a mais na carga horária?
Se cheguei mesmo algum dia após a janta
Não foi devido à tarefa que era tanta
Te confesso: foi por minha secretária

E as várias vezes na escola que eu fora?
Não foi porque sou um pai muito dedicado
Nem pra saber do nosso filho o resultado
Que me levava até lá? A professora

E aquele dia que me levantei da cama
Dizendo que mamãe era doente?
Ninguém estava em casa - estava ausente.
Adormeci com uma garota de programa

E agora vendo as lágrimas na face
E eu já caduco, moça alguma me deseja
Vou abrir pra nós a última cerveja
E após tudo, só queria que me amasse!

quinta-feira, novembro 15, 2007

As maravilhas do amor

Era uma praia. Estava noite. Uma lua
Iluminava nossas almas na areia
Eu sentado ouvindo o canto da sereia
E deitada ao meu lado a moça nua

Verde a noite, verde o mar e verde o olho
Serena, o cabelo já sem trança
E sentindo em mim a própria segurança
Era tranca, grade, alarme, sol, ferrolho

Eu olhava admirando e assim me veio
A vontade de beijar-lhe o mamilo
Me contive. Num instante de cochilo
Não contive minha mão. Toquei-lhe o seio

Acordara, mesmo assim não se mexia
Abriu o olho e fechou, a piscadela
E deitada sobre a areia era mais bela
E a areia nessa noite era mais fria

E respondeu ao leve toque com calor
E eu sentia em minha mão o gesto lento
Do mamilo se adequando ao sentimento
Da mulher que se prepara para o amor

Dei-lhe um beijo, mas permaneceu parada
Respirava, e agora um pouco mais profundo
Inspirando todo amor que há no mundo
E expirando o prazer de ser amada

Inerte ao meu carinho, a todo toque
Apelei, impaciente com a menina,
E coloquei-lhe minha língua na vagina
Esperando reação, ou algum choque

Nada. Imóvel, uma pedra já sem vida
Salvo algumas contrações que eu sentia
Em minha boca e alguma coisa que escorria
Com o gosto de uma fruta indefinida

Desisti. Necrofilia não aceito
Decidi voltar pra casa assim ligeiro
Encostar minha cabeça ao travesseiro
Mas querendo a maciez daquele peito

Levantei-me já estava decidido
Olhei aquela pedra sem desejo
E despedindo-me no derradeiro beijo
Escutei a sua voz em meu ouvido

"Adorei aquele toque no meu seio
Adorei aquele beijo em minha boca
E por dentro estremeci como uma louca
Ao sentir a sua língua bem no meio

Não se abandona dessa jeito a moça nua
Quero você e sei também que você quer
Entra em mim, me faz feliz, me faz mulher
Acelera, vem mais forte, continua..."

E se amaram desde a areia até o mar
Vendo o verde nos olhinhos de princesa
Maravilhosa, encontrou sua beleza
Nessa bela maravilha de se amar!

quarta-feira, novembro 14, 2007

Conselho de amigo

Deixo aqui essas palavras sob a lei
Às mulheres que ficaram no desejo
Na espera da ardência do meu beijo
Que quiseram meu amor, e não lhes dei

Deixo isso aos corações que se partiram
Aguardando o toque de um lábio doce
Ou até mesmo se amargo o lábio fosse
Só quiseram o meu beijo, e não pediram

Deixo aos corpos que à noite se fizeram
A esperança que esquentava a essas damas
Se reviravam enlouquecidas pelas camas
Queriam meu amor, e não disseram

Deixo à vergonha no altar da vergonhice
Da donzela que no quarto feito breu
Queria ter meu corpo sobre o seu
Só queria, bem queria, não me disse

Deixo à lágrima que ao rosto se destila
Escorrendo até as pontas do cabelo
Fazia-me de amor, e eu sem sê-lo
Queria ser feliz, e eu não fi-la

Deixo agora às moças cheias de recato
Que queriam minha boca e minha idade
Sem palavras, a vontade é só vontade
Com palavras, a vontade vira fato

Deixo ao rubro dessa face de guria
E ao piercing sobre a língua feito trava
Se dissesse que queria, eu lhe amava
E pedisse um beijo meu, eu beijaria

Se a paixão em ti fincar sua raíz
Eis que deixo esse conselho para a amiga
Sinta, sem pudores, peça, diga
Se o beijo e o amor te faz feliz

sexta-feira, novembro 09, 2007

Porque Marcos traga

Marquinhos começou a brincar com 12 anos. E foi no shopping que começou a brincar, não na parte dos fliperamas, mas do lado do elevador panorâmico. E não com fliperamas, mas com os pulmões e com a vida. Juntavam-se por ali aos sábados uns amigos de colégio e de IRC, e alguns deles pitavam o Derby.
Não sou muito dessas modernidades, mas pelo que entendi IRC era uma rede de conversa, no qual havia alguns canais, como se fossem salas de bate-papo, algo do tipo, que não sei explicar bem. O que importa é que o pessoal que conversava nessa rede reunia-se nas tardes de sábado pra tirar a virtualidade das amizades que faziam, e alguns para fumar. Marquinhos foi ficando cada vez mais assíduo nesse tipo de encontro e sempre via por lá seu amigo Carlão. Era gordo e tinha um espírito enorme. Atraía amizades facilmente, muitos vinham abraçá-lo, homens, meninas, mulheres. Mas não pensem que era uma espécie de mongolóide, antes pelo contrário, era bem esperto e tinha a ciência das coisas melhor do que qualquer que se juntava por ali. E foi nessa amizade, que surgiram as primeiras cinzas.
Certa feita, Marquinhos movido pela curiosidade solicitou uma tragada no Derby. O gordo lhe deu o filtro e mais uns milímetros de cigarro suficientes para duas. Primeira vez da criança, nem sabia o que fazer. Chupou, soprou e se sentiu o cara. Quem sabe tudo aquilo fosse mais uma tentativa de se inteirar ao grupo, ou de se fazer notar pelos que tinham a sua idade. Pouco importa. O que importa é que aquela prática se tornou freqüente. Marcos fumava ali as guimbas de Carlão, sem nenhuma dignidade, mas achando que era alguém. As senhoras que tinham por hábito o fumo certamente jogariam ao lixo aquela etapa de nicotina, porém o gordo achava por bem dar ao amigo pedinte. E assim era o que acontecia.
Aos 13 anos, Marcos se atreveu a pedir um cigarro inteiro. Foi-lhe dado de bom grado. Ganhara um pouco mais de dignidade agora, porém esse pedido também ganhou uma maior freqüência. Tal fato vez com que o colega de mais peso começasse a chamá-lo de “sugão” – denominação essa que tentava definir a pessoa que se utilizava dos bens alheios indefinidamente. Ele não sustentou o pseudônimo por um ano. Aos 14, tomou uma medida decisiva na sua história: despendeu a quantia de 10 centavos pra comprar o Derbão na unidade, ou picado, como se diz em Minas. E continuou comprando o fumo de 10 centavos todos os sábados que ia ao shopping na banca de revistas do lado externo, até que quem tomou uma medida decisiva foi o Congresso Nacional e o então Presidente FHC, com a lei de número 9294, nos exatos 15 de Julho de 1996, seu aniversário de 15 anos. Bom presente.
O artigo 2º proibia o fumo em recinto coletivo e isso foi a causa da decadência dos encontros no shopping. Carlão não ia mais – não podia fumar lá. Daí os outros começaram a também não ir, e ninguém mais ia, e ninguém mais foi. Há teorias que dizem que essa lei foi que ocasionou o fim da moda do IRC, substituído com êxito pelo MSN Messenger. Muitos protestam pela volta das conversas nos chamados canais, onde podiam expor suas idéias pra muito mais gente, mas o fato é que realmente o IRC submergiu, e junto a ele o fumo de Marquinhos.
Aos 16, retomou. Mas agora já não era mais Marquinhos, já era Marcos. Começara a sair com os amigos para as festinhas da cidade. Já tragava até, Carlão havia ensinado. Cara, puxa como se estivesse bocejando, abre a boca. Ah! Cara, não tragou, saiu a fumaça toda. Tenta de novo. Didática com utilização de métodos e tudo. E se pôs a praticar o fumo, ora “sugava”, ora comprava o tal do picado.
Nem contei que o menino era dado às letras, mas o era. Escrevia um poeminha aqui e ali, ou um conto sem muito vulto. Já tinha sido premiado, mas esses prêmios de colégio, nem contam. O que ocorreu foi que Marcos se atreveu a começar um romance e nem sei por que cargas d’águas achava que, se tomava uns tragos de rum e tirasse o gosto da boca com o Derby, teria maior inspiração. Foi a primeira vez que tirou do bolso mais de 1 real para o fumo – comprara um carteira com 20 cigarros. Nem havia se utilizado de uma dúzia deles, e já perdera o fôlego. Não dos pulmões, mas o fôlego literário imprescindível para escrever o romance pretendido. Depois de completar os 17, começou a estudar para o vestibular. Parou com a nicotina e, bom de cabeça, passou.
Foi estudar Matemática em outra cidade do interior de Minas. Nem se encarregou de fazer muitos amigos. Assimilou bem a responsabilidade que vem junto da liberdade adquirida. Não fumava, nem bebia. Dedicava-se ao estudo e vivia vida regrada, e isso tudo tinha um fundo de mostrar pra mãe que era bom menino. Mas a vida assim, sabemos, fica chata. E ele transferiu a chatice da vida para o curso de Matemática, suas equações, teoremas e algebrismos. Resolveu mudar de faculdade e no mesmo ano fez vestibular para Direito em outra cidade do interior. Pelo fato desta cidade ser mais próxima da sua cidade natal, encontrou vários velhos amigos por lá, e com eles dividiu um apartamento. Na saudade e na solidão das noites em que passava na residência enquanto seus amigos se divertiam por aí, procurou novamente o cigarro. Cigarro não, dessa vez, Gudang Garam. Seus colegas de apartamento fumavam isso e ele resolveu aderir. Queimava estranho, era mais forte, mais caro. Mesmo assim comprou uma carteira com 16, sabor de menta, e fumava um por noite, solitário, na varanda, pensando na vida, na casa dos pais e na família. De um por noite, começaram a ser dois. Dos dois, três. E o bolso pesou porque comprava a carteira por 7 reais.
Aos 19, começou a fumar Carlton, mais barato. E se utiliza disso sempre que podia. Antes do café, no intervalo das aulas, esperando na fila do banco, ou do barbeiro. Às vezes já acende o próximo com o rabinho do outro. Às vezes apaga no meio devido ao início das aulas e reascende o mesmo ao término. Hoje Marcos fuma com muito mais dignidade do que naquela época do IRC. O tempo foi evoluindo e o hábito foi seguindo às linhas do tempo. Fuma sempre, mas por querer, gosta, não é vício. Já faz isso há 7 anos, mas concordo com ele, não é vício.

quinta-feira, novembro 01, 2007

O Free Rider da mão invisível


O economista escocês Adam Smith acreditava que se todos agissem de forma egoísta, as pessoas chegariam ao máximo de bem-estar. Criou assim a teoria da "mão invisível", dizendo que se todos procurassem alcançar seus lucros máximos, movidos pelo interesse próprio, produziriam sem querer o melhor para a sociedade, como se fossem guiados pela tal da mão. Sinto informar, mas essa teoria e algumas outras de não-intervenção do estado na economia, inclusive as anarquistas, bateram de frente com o "free rider problem".
No início da década de 90, quando cheguei ao bairro que resido atualmente em Fortaleza, chegaram também o furto e a violência. Não os trouxe, juro, mas vieram. Por causa disso, o pessoal do quarteirão resolveu contratar um vigia para prover a segurança mínimas às casas no período noturno. 60 casas, cada uma pagaria 10 reais, 600 reais, bom dinheiro, dava para um cidadão viver dignamente. E acertou esse valor com Seu Cosme, já senhor maduro tendo por hábito o fumo de cigarros que ele mesmo fabricava. O cheiro dos tais já o identificavam. De início, tudo bem, mas sempre há um esperto.
Meu vizinho Marcelo resolveu parar de pagar. Alegou doença da sogra, despesas a mais com uma das dependentes que declarara no último Imposto de Renda, estava apertado, duro, liso. Sem erotismo, por favor. Mas o fato é que Seu Cosme continuou exigindo os 600 e para não descontentar o cabra velho, cada um tinha que pagar agora o valor de 10 reais e 17 centavos. Nem me importei de início, dava até 50 centavos a mais do que antes. Mas o que aconteceria se Seu Cosme visse um malandro adentrar a casa do Marcelo para roubar? Decerto a omissão como forma de vingança, ou simplesmente de justiça, poderia ser vista pela Justiça no artigo 186 do Código Civil como ato ilícito. Teria de exercer sua função profissional, mesmo sem receber nenhum centavo do roubado.
O pior de tudo é que foram percebendo isso, ou melhor, fomos. Houve uma epidemia no quarteirão. As sogras começaram a adoecer, os salários reais foram diminuindo por causa da inflação, os meninos novos começaram a entrar nas escolas particulares, e os gastos estavam cada vez maiores, consoantes afirmavam os moradores, impossibilitando o pagamentos da mensalidade para o vigia. Assim, eu fui pagando cada vez mais por mês, até ficar numa situação insustentável, porque não poderia dar sozinho 6oo reais para o vigia.
Isso é o "free rider problem". Porque eu pagaria por um benefício se posso pegar carona no benefício que o outro já paga? Se ninguém pode me excluir por inadimplência do usufruto de determinado bem, melhor ficar sem pagar que gasto o dinheiro no shopping mais tarde. Porém, visto que há muitos espertos para poucos otários, acaba que ninguém paga nada, e ninguém recebe nada também.
Esse fato também justifica a existência dos bens públicos, regulamentos nos artigos 98 e 99 do Código já citado. Já pensou se privatizassem as Forças Armadas? Você pagaria por elas, mesmo sabendo que as fronteiras do seu país estariam a salvo, já que alguém do país paga e tem direito a isso? Eu pagaria, mas somente se não houvesse conhecido Marcelo. Hoje em dia, não pagaria mais não. E se todas a costa brasileira fosse privatizada? Você pagaria, mesmo sabendo que qualquer uma poderia tomar banho de mar, pagando ou não?
O problema é este: se todos podem fazer, ninguém faz, porque pensam que outro poderia fazer no seu lugar. É o que ocorre no Brasil com os assuntos de maior relevância. A assembléia constituinte de 1988 colocou como competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no seu artigo 23, as principais preocupações nacionais: democracia, saúde, cultura, arte, educação, ciência, meio ambiente, fauna, flora, alimento, moradia. Mas como todos podem fazer, ninguém faz, deixa como está.
"Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio 'auto-interesse'", afirmou Smith. "Minha sogra tá doente, tem como pagar não", disse Marcelo. "Quero meus 600!", exigiu Seu Cosme. "Não posso pagar tudo sozinho", falei eu. E assim o Free Rider deu um aperto na mão invisível, e sairam por aí contando sobre a realidade que acontece hoje no Brasil, como já dizia Gil Vicente no seu personagem Belzebu:

Para que sirva de aviso,
mais uma transa se escreve:
Todo Mundo quer Paraíso
e Ninguém paga o que deve

Depoimentos à laia de valsinha para damas

Esses são depoimentos que escrevi no tal do orkut também. Tinha mais, mas as mais desgostadas apagaram e não tive forma de resgate. Realmente nunca tive muita afeição dessas mulheres. Logo: insucesso total.

(Sol)
Você é minha alvorada
É como uma fada
Feita só de luz
Você é a estrada clara
Onde a lua pára
E o sol reluz

Você é o amanhecer mais puro
Que destrói o escuro
Com seu arrebol
Você é a luz mais reluzente
Que me faz contente
Você é o sol!

Você é Anna Sol Faria
A mãe da alegria
Que em ti se leu
Você além de ser a fada
É a namorada
De um amigo meu...

(Cláudia)
Você é a florzinha branca
Que entra e tranca
O meu coração
Você é bela pianista
Que só me conquista
Com sua leve mão

Você é uma poetisa
Que me concretiza
Um sonho irreal
Você é algo impossível
É o amor visível
Navegando a nau

Você é a vaga e a procela
É a moça bela
Que me fala sim
Você é moça pura e crente
O melhor presente
Que Deus deu pra mim!

(Beatrice)
Ela é a borboleta leve
Que em nada deve
A um beija-flor
Ela é a garotinha esperta
Que sempre está certa
Ela é um amor

Ela é um pinguinho moreno
Pinguinho pequeno
No papel de Deus
Ela é a melhor fantasia
Que se principia
Num dos sonhos seus

Ela é a Dona Beatrice
E quem quer que visse
O que ela é
Lhe diria você é o mundo
Algo mais profundo
Que tudo que é...