Marquinhos começou a brincar com 12 anos. E foi no shopping que começou a brincar, não na parte dos fliperamas, mas do lado do elevador panorâmico. E não com fliperamas, mas com os pulmões e com a vida. Juntavam-se por ali aos sábados uns amigos de colégio e de IRC, e alguns deles pitavam o Derby.
Não sou muito dessas modernidades, mas pelo que entendi IRC era uma rede de conversa, no qual havia alguns canais, como se fossem salas
de bate-papo, algo do tipo, que não sei explicar bem. O que importa é que o pessoal que conversava nessa rede reunia-se nas tardes de sábado pra tirar a virtualidade das amizades que faziam, e alguns para fumar. Marquinhos foi ficando cada vez mais assíduo nesse tipo de encontro e sempre via por lá seu amigo Carlão. Era gordo e tinha um espírito enorme. Atraía amizades facilmente, muitos vinham abraçá-lo, homens, meninas, mulheres. Mas não pensem que era uma espécie de mongolóide, antes pelo contrário, era bem esperto e tinha a ciência das coisas melhor do que qualquer que se juntava por ali. E foi nessa amizade, que surgiram as primeiras cinzas.
Certa feita, Marquinhos movido pela curiosidade solicitou uma tragada no Derby. O gordo lhe deu o filtro e mais uns milímetros de cigarro suficientes para duas. Primeira vez da criança, nem sabia o que fazer. Chupou, soprou e se sentiu o cara. Quem sabe tudo aquilo fosse mais uma tentativa de se inteirar ao grupo, ou de se fazer notar pelos que tinham a sua idade. Pouco importa. O que importa é que aquela prática se tornou freqüente. Marcos fumava ali as guimbas de Carlão, sem nenhuma dignidade, mas achando que era alguém. As senhoras que tinham por hábito o fumo certamente jogariam ao lixo aquela etapa de nicotina, porém o gordo achava por bem dar ao amigo pedinte. E assim era o que acontecia.
Aos 13 anos, Marcos se atreveu a pedir um cigarro inteiro. Foi-lhe dado de bom grado. Ganhara um pouco mais de dignidade agora, porém esse pedido também ganhou uma maior freqüência. Tal fato vez com que o colega de mais peso começasse a chamá-lo de “sugão” – denominação essa que tentava definir a pessoa que se utilizava dos bens alheios indefinidamente. Ele não sustentou o pseudônimo por um ano. Aos 14, tomou uma medida decisiva na sua história: despendeu a quantia de 10 centavos pra comprar o Derbão na unidade, ou picado, como se diz em Minas. E continuou comprando o fumo de 10 centavos todos os sábados que ia ao shopping na banca de revistas do lado externo, até que quem tomou uma medida decisiva foi o Congresso Nacional e o então Presidente FHC, com a lei de número 9294, n
os exatos 15 de Julho de 1996, seu aniversário de 15 anos. Bom presente.
O artigo 2º proibia o fumo em recinto coletivo e isso foi a causa da decadência dos encontros no shopping. Carlão não ia mais – não podia fumar lá. Daí os outros começaram a também não ir, e ninguém mais ia, e ninguém mais foi. Há teorias que dizem que essa lei foi que ocasionou o fim da moda do IRC, substituído com êxito pelo MSN Messenger. Muitos protestam pela volta das conversas nos chamados canais, onde podiam expor suas idéias pra muito mais gente, mas o fato é que realmente o IRC submergiu, e junto a ele o fumo de Marquinhos.
Aos 16, retomou. Mas agora já não era mais Marquinhos, já era Marcos. Começara a sair com os amigos para as festinhas da cidade. Já tragava até, Carlão havia ensinado. Cara, puxa como se estivesse bocejando, abre a boca. Ah! Cara, não tragou, saiu a fumaça toda. Tenta de novo. Didática com utilização de métodos e tudo. E se pôs a praticar o fumo, ora “sugava”, ora comprava o tal do picado.
Nem contei que o menino era dado às letras, mas o era. Escrevia um poeminha aqui e ali, ou um conto sem muito vulto. Já tinha sido premiado, mas esses prêmios de colégio, nem contam. O que ocorreu foi que Marcos se atreveu a começar um romance e nem sei por que cargas d’águas achava que, se tomava uns tragos de rum e tirasse o gosto da boca com o Derby, teria maior inspiração. Foi a primeira vez que tirou do bolso mais de 1 real para o fumo – comprara um carteira com 20 cigarros. Nem havia se utilizado de uma dúzia deles, e já perdera o fôlego. Não dos pulmões, mas o fôlego literário imprescindível para escrever o romance pretendido. Depois de completar os 17, começou a estudar para o vestibular. Parou com a nicotina e, bom de cabeça, passou.
Foi estudar Matemática em outra cidade do interior de Minas. Nem se encarregou de fazer muitos amigos. Assimilou bem a responsabilidade que vem junto da liberdade adquirida. Não fumava, nem bebia. Dedicava-se ao estudo e vivia vida regrada, e isso tudo tinha um fundo de mostrar pra mãe que era bom menino. Mas a vida assim, sabemos, fica chata. E ele transferiu a chatice da vida para o curso de Matemática, suas equações, teoremas e algebrismos. Resolveu mudar de faculdade e no mesmo ano fez vestibular para Direito em outra cidade do interior. Pelo fato d
esta cidade ser mais próxima da sua cidade natal, encontrou vários velhos amigos por lá, e com eles dividiu um apartamento. Na saudade e na solidão das noites em que passava na residência enquanto seus amigos se divertiam por aí, procurou novamente o cigarro. Cigarro não, dessa vez, Gudang Garam. Seus colegas de apartamento fumavam isso e ele resolveu aderir. Queimava estranho, era mais forte, mais caro. Mesmo assim comprou uma carteira com 16, sabor de menta, e fumava um por noite, solitário, na varanda, pensando na vida, na casa dos pais e na família. De um por noite, começaram a ser dois. Dos dois, três. E o bolso pesou porque comprava a carteira por 7 reais.
Aos 19, começou a fumar Carlton, mais barato. E se utiliza disso sempre que podia. Antes do café, no intervalo das aulas, esperando na fila do banco, ou do barbeiro. Às vezes já acende o próximo com o rabinho do outro. Às vezes apaga no meio devido ao início das aulas e reascende o mesmo ao término. Hoje Marcos fuma com muito mais dignidade do que naquela época do IRC. O tempo foi evoluindo e o hábito foi seguindo às linhas do tempo. Fuma sempre, mas por querer, gosta, não é vício. Já faz isso há 7 anos, mas concordo com ele, não é vício.
Não sou muito dessas modernidades, mas pelo que entendi IRC era uma rede de conversa, no qual havia alguns canais, como se fossem salas

Certa feita, Marquinhos movido pela curiosidade solicitou uma tragada no Derby. O gordo lhe deu o filtro e mais uns milímetros de cigarro suficientes para duas. Primeira vez da criança, nem sabia o que fazer. Chupou, soprou e se sentiu o cara. Quem sabe tudo aquilo fosse mais uma tentativa de se inteirar ao grupo, ou de se fazer notar pelos que tinham a sua idade. Pouco importa. O que importa é que aquela prática se tornou freqüente. Marcos fumava ali as guimbas de Carlão, sem nenhuma dignidade, mas achando que era alguém. As senhoras que tinham por hábito o fumo certamente jogariam ao lixo aquela etapa de nicotina, porém o gordo achava por bem dar ao amigo pedinte. E assim era o que acontecia.
Aos 13 anos, Marcos se atreveu a pedir um cigarro inteiro. Foi-lhe dado de bom grado. Ganhara um pouco mais de dignidade agora, porém esse pedido também ganhou uma maior freqüência. Tal fato vez com que o colega de mais peso começasse a chamá-lo de “sugão” – denominação essa que tentava definir a pessoa que se utilizava dos bens alheios indefinidamente. Ele não sustentou o pseudônimo por um ano. Aos 14, tomou uma medida decisiva na sua história: despendeu a quantia de 10 centavos pra comprar o Derbão na unidade, ou picado, como se diz em Minas. E continuou comprando o fumo de 10 centavos todos os sábados que ia ao shopping na banca de revistas do lado externo, até que quem tomou uma medida decisiva foi o Congresso Nacional e o então Presidente FHC, com a lei de número 9294, n

O artigo 2º proibia o fumo em recinto coletivo e isso foi a causa da decadência dos encontros no shopping. Carlão não ia mais – não podia fumar lá. Daí os outros começaram a também não ir, e ninguém mais ia, e ninguém mais foi. Há teorias que dizem que essa lei foi que ocasionou o fim da moda do IRC, substituído com êxito pelo MSN Messenger. Muitos protestam pela volta das conversas nos chamados canais, onde podiam expor suas idéias pra muito mais gente, mas o fato é que realmente o IRC submergiu, e junto a ele o fumo de Marquinhos.
Aos 16, retomou. Mas agora já não era mais Marquinhos, já era Marcos. Começara a sair com os amigos para as festinhas da cidade. Já tragava até, Carlão havia ensinado. Cara, puxa como se estivesse bocejando, abre a boca. Ah! Cara, não tragou, saiu a fumaça toda. Tenta de novo. Didática com utilização de métodos e tudo. E se pôs a praticar o fumo, ora “sugava”, ora comprava o tal do picado.
Nem contei que o menino era dado às letras, mas o era. Escrevia um poeminha aqui e ali, ou um conto sem muito vulto. Já tinha sido premiado, mas esses prêmios de colégio, nem contam. O que ocorreu foi que Marcos se atreveu a começar um romance e nem sei por que cargas d’águas achava que, se tomava uns tragos de rum e tirasse o gosto da boca com o Derby, teria maior inspiração. Foi a primeira vez que tirou do bolso mais de 1 real para o fumo – comprara um carteira com 20 cigarros. Nem havia se utilizado de uma dúzia deles, e já perdera o fôlego. Não dos pulmões, mas o fôlego literário imprescindível para escrever o romance pretendido. Depois de completar os 17, começou a estudar para o vestibular. Parou com a nicotina e, bom de cabeça, passou.
Foi estudar Matemática em outra cidade do interior de Minas. Nem se encarregou de fazer muitos amigos. Assimilou bem a responsabilidade que vem junto da liberdade adquirida. Não fumava, nem bebia. Dedicava-se ao estudo e vivia vida regrada, e isso tudo tinha um fundo de mostrar pra mãe que era bom menino. Mas a vida assim, sabemos, fica chata. E ele transferiu a chatice da vida para o curso de Matemática, suas equações, teoremas e algebrismos. Resolveu mudar de faculdade e no mesmo ano fez vestibular para Direito em outra cidade do interior. Pelo fato d

Aos 19, começou a fumar Carlton, mais barato. E se utiliza disso sempre que podia. Antes do café, no intervalo das aulas, esperando na fila do banco, ou do barbeiro. Às vezes já acende o próximo com o rabinho do outro. Às vezes apaga no meio devido ao início das aulas e reascende o mesmo ao término. Hoje Marcos fuma com muito mais dignidade do que naquela época do IRC. O tempo foi evoluindo e o hábito foi seguindo às linhas do tempo. Fuma sempre, mas por querer, gosta, não é vício. Já faz isso há 7 anos, mas concordo com ele, não é vício.
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