domingo, outubro 31, 2004

Pedro Roney e o eterno retorno

As fezes tão nobres se tornam adubo
Para as sementes da mãe natureza
Criam-se plantas nas quais eu subo
Das quais me alimento e observo a beleza

O tal alimento retoma a cadeia
Que continuamente vai se repetindo
Como um homem que vem da areia
E volta à areia chorando ou sorrindo

São cartas expulsas que voltam ao jogo
As cenas repetem ao fio e ao cabo
Quem me fez com ferro também fez com fogo
Pouco importa se foi o tal Deus ou o Diabo

Seguindo a doutrina do Eterno Retorno
Vivendo e sendo o Univerno que sou
Descobro a verdade e a coloco no forno
Porque tudo acaba como começou!

segunda-feira, outubro 25, 2004

Poema ateu nº 3

Quebro um fio de cabelo e me afogo em uma lágrima
Penetro sua retina tão escura quanto a noite sem lua
Mas a menina dos teus olhos toma-me nas mãos
Brinca um pouco comigo e lança-me aos vazios abissais
De uma hemácia eu faço uma canoa redonda e vermelha
Passeio tranqüilo pelas alamedas saguinárias de teu organismo
És por dentro animail real e irracionalizado
Tua mente não penetra no teu âmago como eu
Por isso, posso falar com toda a propriedade:
Dentro de ti não há alegria, nem paz, nem Deus
Dentro di há gosmas, fluidos, sangue e sangue

Poema ateu nº 2

Minha vida rompe a hidrostática
Esparramando mercúrio e pus
O próprio Cristo, o sangue, a cruz
Vem os somar com a tal matemática

Nossa torcida se exalta fanática
Quando os romanos humilham Jesus
Colocam madeira sobre os ombros nus
Queima discursos e partem pra prática

Quando pressão, antes atmosférica,
Vem se tornar a pressão popular
Deus chuta a Terra, essa massa esférica,

Mata seu filho, constrói um altar
Faz terremotos com ira colérica
E finque que é bom para melhor passar!

Poema ateu nº 1

Não sei mais o que fazer, meu caro amigo,
Já parei de acreditar nesse tal deus
Já andei sobre as brasas de um adeus
Desafiando o Senhor e o perigo

Mesmo guiando os meus passos, guio mal
Mas jamais concederia à divindade
O poder de decidir, a liberdade
De escolher o meu caminho e meu final

Se todos são marionetes do Senhor
Eu desafio-o pra que saiba meu futuro
E o que disser, podes crer, eu asseguro
Faço o completo oposto ao que falou

Não sou criança desmamada ou menino
Que luta impotente contra o mundo
Pode até mesmo que seja um vagabundo
Mas não sou Édipo, eu que faço meu destino.

domingo, outubro 24, 2004

O que dá para poesia?

Os temas os mais prosaicos dão para a poesia
A rapariga que já dá para todos também dá para poesia
A "miota" dos papudinhos de manhã cedo, essa sim dá para a poesia
O casal comportado praticando sexo anal cabe na poesia
Uma ocasional ereção do Professor Chaminé, além de milagre, é matéria de poesia
Um gato brincando com uma bola numa confusão de bola-gato serve para a poesia
Cheiradores de cola, maconheiros, pixadores ociosos, eu, marginais, traficantes, enfim,
os maus elementos da sociedade atual são um diamante para a poesia
As músicas da banda Meine Eier e seus solos de contra-baixo são pérolas de poesia
Um conteúdo programático positivo sobre homossexualidades dá para a poesia
Melhor, as viadagens em geral dão (e como dão!) para poesia
Dar um xeque-mate de peão, matar um lezado com facadas num jogo de CS,
Roubar doces de crianças ou até mesmo roubar as crianças dos doces
(para os de pensamento lento, isso é seqüestro infantil) são úteis para a poesia
Colocar clara de ovo na bunda de um rapaz dormindo a fim de
quando ele acordar pensar que gozaram nele é válido para a poesia
A escória, o lixo, as pregações de Cristo, as promessas de Lula, as falsidades, as mentiras, as falácias,
tudo isso é sem dúvida muito utilizado na poesia
As quadrinhas do Afonso, as redações do Pedro Henrique são verdadeiras poesias
Tudo, enfim, Tudo se mete na poesia e tudo dá para a poesia!