quarta-feira, março 19, 2008

Razão de Deus

Da força submissa do vassalo

Se esconde na vulgata e no papiro

Potência mais balística do tiro

Levado pelas patas do cavalo


Espadas e outras armar que ia dá-lo

Aos duques e barões que me refiro

O calcanhar de Aquiles ganha giro

No homérico incômodo do calo


Já nota no fervor do seu denodo

Vontade conseqüente de sossego

Vista no cochilo visigodo


Para desmentir o seu apego

O que desconhecia como um todo

Dizia ser por culpa de um deus grego



domingo, março 16, 2008

Um certo testamento

Eis que nos conta a península Ibérica

De um testamento feito por Adão

Na língua nativa e escrito à mão

Só dois países dividem a América


Área bem rica, riqueza tamanha

Planícies, planaltos, os andes, as ilhas

Foi divido tudo em Tordesilhas

Só entre dois: Portugal e Espanha


Aí que começa um pequeno jogo

Léguas a menos, esqueda, direita

Um não aceita, o outro aceita

Mas acreditam com a mão sob o fogo


São coisas do passado, o tempo leva

Mas no palco eterno do momento

Ficou ali guardado o testamento

Do esposo da querida Eva


E esse fato pesa sobrew mim

Escrito no contexto mais correto

Perfeição caligráfica do alfabeto

Do idioma oficial de um Jardim


Jardim do Éden, plano vivo da memória

Não adianta gritar "não acredito"

O testamento ainda permanece escrito

Nas cabeças que alteram nossa história


segunda-feira, março 10, 2008

Explosão mixta

Vejo na pupila do olho que eu vejo

Um poço de água parada e vermelha

A chuva, a paixão que escorre da telha

No poço do amor, repleto desejo

A gota do céu que vem tocar no beijo

Reflexos teus que a beleza espelha

O fogo apagado querendo a centelha

Para explodir com cheiro de queijo

Mas olha nos olhos, só olha - diz nada

Cala-se, muda, lhe falta o assunto

Descobre que é, nos meus olhos, a amada


Depois ajoelha e diz de pé junto

Que vai ser centelha da chama apagada

Para explodir cheirando a presunto


sexta-feira, março 07, 2008

Cavalheiro em lágrimas

Desce do cavalo e brilha a bota

E os estribos pendurados sob a sela

Com sua elegância, sempre a mesma

Procura carinhoso pelo amor


Da beleza que essa busca já denota

O insucesso de quem perde a sua bela

A tristeza meio lenta, meio lesma

Suportando as dores fortes do amor


Lacrimeja na gravata, o janota

Relembrando o gosto bom do beijo dela

Com poemas, já gastara mais de resma

Coloridos com o seu lápis de cor



quarta-feira, março 05, 2008

Nacitura

Na homeopatia das micoses

O feto, esse ser inda não feito

Alejado no caminho mais estreito

Na senda homeopática das doses


Hematomas, tumores como nozes

Afável aconchego de seu leito

Mantendo um coração fora do peito

E um reumatismo idoso das artroses


Mudança antitética da idade

Um pulmão externo na narina

Sentir sabor de morte em navidade


Agulhas na veícula muito fina

Buscando no poder dessa vontade

Direito de permanecer menina.


sábado, março 01, 2008

A Nitidez dos quadros

No arco capaz de um cosseno

Um compasso que desanda na manobra

Inocula no papel o seu veneno

Que tirara da fosseta de uma cobra


A mão do desenhista mais sereno

Aquela no qual tudo se desdobra

Impõe no seu quadrinho mais moreno

O preto que em sua pelo ainda sobra


Velho experiente, barba branca

E branca a tinta usada no pincel

Comprada certa vez na zona franca

Usada até para pintar o céu


Pintou uma maça, uma mocinha

E fez com um traçado mais antigo

Pra vida não ser chata como a minha

Pintou pra si o próprio inimigo


Pintou aquilo tudo que não tinha

Um quadro bem mais belo do que digo

Mais belo que qualquer palavra minha

Eu tento expressar e não consigo


Apagava, repintava, dava enfoque

A tinta estava fresca e ainda fria

Seis dias inteiros de retoque

Pra descansar no tal sétimo dia


Descanso eterno, digo, meu Sherlock

Depois de tudo pronto, já dormia

Levou na testa o tiro de uma Glock

Pintor, coitado, se descoloria...