No arco capaz de um cosseno
Um compasso que desanda na manobra
Inocula no papel o seu veneno
Que tirara da fosseta de uma cobra
A mão do desenhista mais sereno
Aquela no qual tudo se desdobra
Impõe no seu quadrinho mais moreno
O preto que em sua pelo ainda sobra
Velho experiente, barba branca
E branca a tinta usada no pincel
Comprada certa vez na zona franca
Usada até para pintar o céu
Pintou uma maça, uma mocinha
E fez com um traçado mais antigo
Pra vida não ser chata como a minha
Pintou pra si o próprio inimigo
Pintou aquilo tudo que não tinha
Um quadro bem mais belo do que digo
Mais belo que qualquer palavra minha
Eu tento expressar e não consigo
Apagava, repintava, dava enfoque
A tinta estava fresca e ainda fria
Seis dias inteiros de retoque
Pra descansar no tal sétimo dia
Descanso eterno, digo, meu Sherlock
Depois de tudo pronto, já dormia
Levou na testa o tiro de uma Glock
Pintor, coitado, se descoloria...
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