sábado, março 01, 2008

A Nitidez dos quadros

No arco capaz de um cosseno

Um compasso que desanda na manobra

Inocula no papel o seu veneno

Que tirara da fosseta de uma cobra


A mão do desenhista mais sereno

Aquela no qual tudo se desdobra

Impõe no seu quadrinho mais moreno

O preto que em sua pelo ainda sobra


Velho experiente, barba branca

E branca a tinta usada no pincel

Comprada certa vez na zona franca

Usada até para pintar o céu


Pintou uma maça, uma mocinha

E fez com um traçado mais antigo

Pra vida não ser chata como a minha

Pintou pra si o próprio inimigo


Pintou aquilo tudo que não tinha

Um quadro bem mais belo do que digo

Mais belo que qualquer palavra minha

Eu tento expressar e não consigo


Apagava, repintava, dava enfoque

A tinta estava fresca e ainda fria

Seis dias inteiros de retoque

Pra descansar no tal sétimo dia


Descanso eterno, digo, meu Sherlock

Depois de tudo pronto, já dormia

Levou na testa o tiro de uma Glock

Pintor, coitado, se descoloria...




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