sábado, abril 30, 2005

Tendências suicidas

O que sente o suicida ao olhar a morte,
Destino inevitável do seu ser?
Pensa que tudo se resume no saber
A hora certa de romper a veia forte

E partindo, uns pro sul, outros pro norte
Pensariam o que vale o viver
Esse ciclo eterno, plantar, colher
Onde uns morrem e outros tem sorte

Saltemos fora da ponte da vida
Olhando pro nosso destino certo
Com a oculta alegria da partida

Sintamos o calor do peito aberto
Adiantemos o final dessa corrida
Pra quê rodar se nosso fim está tão perto?

Nietzche

A alemãzinha dançando tão meiga
Externamente um anjo tão puro
Por dentro é um abismo escuro
Sem ar, sem água, sem pão, sem manteiga

Só com desejos sensuais e eróticos
Transvaloriza todos os meus valores
Me aguça o olfato com seus odores
Ativa sonhos com seus olhos góticos

Quero comê-la como um animal
Com vontade de potência e pá
Quero após isso tudo retornar
Eternamento ao ato sexual

Quero algo como o sexo dos cães
Contra lei, regra, ordem e nazismo
Daremos cabo do cristianismo
E a culpa será dos alemães!

Segue teus instintos

Morde o seios da mãe, puta valente
Engole o leite podre que alimenta
Martiriza diabos na água benta
Que escorre da genitália quente

O sulco vaginal amargo e ácido
Lavando os dedos do seu pé amigo
Enfia com carinho no umbigo
O seu pênis tão pequenino e flácido

Acomoda sobre o corpo vadio
Sua pele tão pura e sua alma
Relaxa e entrega-se com calma
À essa terra de pecados mil

Na tenra idade fora molestada
Pelo pai, homem duro e turrão
E escolheu a prostituição
Como ofício e função forçada

Criança, faça o que vier na mente
Toca as carnes macias desse peito
A auréola rosadinha, com jeito,
Abri sua boca e enfia o dente!

A potência das frases

Frio. Os mamilos das meninas estavam duros como as pedras que encontrei pelo caminho. Os sacos escrotais dos meninos se recolhiam como um gatinho inofensivo diante do mais feroz predador. E eu, com as mãos nas axilas, batia meus dentes amarelos esperando a noite, velha companheira, preta e triste, para terminar mais um expediente de mesa, papel e escritório.
Era dia da morte de São João Batista, aquele que não é "um caniço agitado pelo vento". Não penso num caniço. Não penso nunca nisso. Apesar dos milagres que presencio diariamente, sou ateu. Ateu daqueles de rezar terços ao tinhoso, de retirar restos de fezes com páginas da Bíblia.
Naquele dia, eu vi uma menina cantando sozinha pela calçada da Rua Alfredo Rodrigues. "Foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez lá lá lá lá...". Aquele ursinho branco, barato e ridículo em seus braços e aquelas marcas de alegria e chocolate nos seus lábios finos me inquietaram. Menina maluca; eu, hein? E ela cantava mais alto. Fiquei cada vez mais angustiado, interno, comprimido, fazendo pequenas bolinhas com meus sentimentos, como fossem papel. Corri e a cada passo um emoção ia se abrindo qual uma boca no bocejo e, ao encontrar-me face a face com a desgraçada, gritei:
- Foda-se, guria... ok? Você é uma putinha, uma vadiazinha....
Ela saiu chorando com suas pernas rápidas. Eu ri e, fumando um cigarro, percebi que não gosto muito de pessoas felizes.

Campeonato de xadrez

Aquele ia ser um dia feliz. A garotada empolgada com o grande torneio de xadrez que ia acontecer. Isso mesmo, senhores, um empolgante torneio daquele joguinho de 64 casas, 32 peças, valores diversos, mentes diversas - inútil.
- Inútil? Quem sabe? Mas é divertido pra caralho!
Gritos. Gritos paradoxais para aquela brincadeirinha chata. No entanto, aquele dia não era um qualquer. Já estava tudo combinado: o Nerd ia trazer a aguardente; o CDF ia trazer a carne; e o Preto ia ser, digo, ia trazer o carvão.
- Vamos pra saca! Vamos pra farra!
O garoto dos óculos redondos ia trazer a esperada puta. Claro, o torneio tinha de ter um prêmio.
- Ô bitolado, quem vai comer essa puta?
- zzz...
Dormiu. Na vontade grande da vitória, estudou uma meia dúzia de estratégias durante a madrugada inteira. No mais, animação. Aquele ia ser um dia feliz. Chegaram todos. Cachaça? Presente! Churrasco? Aqui! Puta? Cheguei! Ruy Lopez? zzz... Ruy Lopez? zzz.... Ruy Lopez?!?! Opa! Estudada!
- Vamos dar início a mais um torneio de... torneio de.... de....
- Xadrez!
- Xadrez... Xadrez? X-A-D-R-E-Z?!?!
- Quem trouxe xadrez?
- Puta que pariu! Será que ninguém trouxe xadrez?
- Eu trouxe damas...
- Damas? Cala a boca, sua puta!
- Dedada na puta! Chute na puta!
- Nããããão.... Vamos comer a puta!
- Todos juntos?
- Impossível... impossível...
- Que porra é essa? Eu quero é Xadrez!
Silêncio. Respeito ao nome santo. Todos baixam a cabeça e se arrependem sinceramente de terem esquecido de trazer um necessário e adorado xadrez. Choro calado. Lágrimas solitárias.
- Ah! Vocês são um bando de criancinhas choronas.
Vidro. Cabeça. Aguardente com sangue. Óbito.
- Ela morreu...
- Necrofiliaaaaaaa!
- Que é isso? Seu taradão!
- Que é isso? Que é isso o quê? Necrofilia!
- Necrofilia! Necrofilia!
- Ne-cro-fi-lia! Ne-cro-fi-lia!
Festival de pênis encima da moça mora. Boca, buceta, cu, ouvido, nariz, umbigo, entre os dedos dos pés... Tocaram o foda-se! É, senhores, nem sempre a juventude mantem suas emoções intactas diante da morte.

Solução intelectual

A felicidade pegou de Marcolino e levou-o aos festejos no vale das Augustas. Danças, parati e putaria. Que mais queria a juventude naquela noie para cachorros e lobos? Afetavam suas sobriedades com o álcool, amavam-se a luz do luar e bailavam enquanto as colcheias e semicolcheias saltavam do saxofone de
seu Chico Mota.
Marcolino até ali havia sido um pobre-diabo cincunspeto e apático. Nada de alegrias, isso é propriedade exclusiva de malandros e basbaques. E assim continuaria a ser e pensar, não fosse a interferência maligno-bendita de Sabastiana. Essa rapariga não tinha palminha de rosto, mas para aquele nádegas-flácidas (se me permitem a expressão) era como um bom naco de picanha bem passada.
Ali estavam ambos: ela movimentando seu corpo pecaminoso em gestos com motivos sexuais e ele balançando suas camadas adiposas de um lado a outro. Nunca se havia imaginado capaz de executar tamanho despautério, no entanto, após alguns goles da boa e velha aguardente cearense até o bom moço se reveste da máscara do ridículo. Foi piorando paulatinamente. Tombou gordamente no solo imundo, defecou nas calças as quais não honrou e vomitou tal qual um bezerro preto e magro a excretar os próprios órgãos pela cavidade bucal.
A rapariga que lhe fazia o cortejo de acompanhante, vendo o coitado naquela situação suína, reclamou o auxílio de terceiros. O mais sábio e mais audaz presente no recinto forneceu a solução intectual para o caso:
- Encaixe o nariz desse egoísta em seu umbigo, que mais parece um povo profundo. Cole as extremidades dos membros inferiores na região posterior do crânio. Coloque tudo dentro de um saco d elixo e lançe essa imundície esférica para uns quatro quintos dos infernos, que é o espaço aproximado que ocupará.

Conclusão que eu cheguei

Meu cinto, meu sapato, minha platina
Minha barba, meu rosto, meu corpo todo
Isso tudo que tenho é puro lodo
Onde se cospe, mija, caga e pina

Tudo é errado, todos julgam mau
Meu passo, minha forma de marchar
Meus comandos, meu viver, meu andar
E meu modo de segurar o FAL

Quando fecho meu coração aberto
Também racionalizo meu estado
Noto que todo mundo está errado
E eu, logo eu, sou o único certo!

Alucinações patológicas

Criatura infeliz e raquítica
Agora quero vê-la entrar em coma
Com socos deixarei um ematoma
Com chutes levarei à fase crítica

Odeio sua consciência mítica
E esses remédios que ela sempre toma
Transformarei seu protossifiloma
Em doída roséola sifilítica

É raiva, ódio, violências sérias
Rancor, vingança, sofrimento e ira
Vontade intensa de ficar de férias

A existência da infeliz vira
Será roubada pelas bactérias
Se é que um dia ela existira...

Cães inoportunos

As náuseas caninas do meu amigo
Que eu escutava quando dormia
Queimavam-me o cérebro qual asia
E eu me agitava dentro do abrigo

Não conhecia o grande perigo
De em um quartel de Infantaria
Juntar outros cães em sua agonia
Romper amizades: eu sempre consigo

Com meu sangue frio e olhar implacável
Peguei a arma, fiz cara de mau
Naquele pescoço de ser amável

Com baioneta, fiz corte letal
Antecipei o destino imutável
Matei cachorros com tiros de FAL!

Ódios e adorações

Eu odeio microfone
Eu odeio as pessoas
Eu odeio coisas boas
'cause I live alone

Eu odeio ver piroca
Não sou chato, burro e besta
Não vou pra casa na sexta
'cause I'm not carioca

Eu adoro meu fuzil
Gosto de cortar cabeça
De quem me desobeça
'cause I born to kill

Vivo a vida castrense
Eu adoro rapadura
Mantenho minha postura
'cause I am cearense

Uma grande descoberta

Descobri do que não gosto
Não são livros nem leituras
Nem desenhos nem figuras
Nem poltrona onde me acosto

Não é música baiana
Muito menos rock inglês
Nem preguiça de burguês
Nem escravo a beber cana

Não é casa, apartamento
Nem mansão ou algum carro
Tampouco mulher de barro
Ou mulheres do momento

Nem morango ou chocolate
Nem cebola ou agrião
Nem é bife, arroz, feijão
Macarrão, alface e mate

Nem xadrez, nem matemática
Nem boate ou malandragem...
Eu não gosto é da linguagem
Utilizada em função fática!

Sertaneja do Planeta

Com seu hímen bem intacto
Imaculada buceta
Penetrada no impacto
De um dedo e uma caneta
Nascida dentro de um cacto
Sertaneja do Planeta

Está sempre bem trajada
Chapéu de couro e gibão
Protegida e guardada
Sempre ao lado do irmão
Começa a ser desejada
Por machos da região

Menina pouco vivida
Os seus seios imaturos
E já foi acometida
Por alguns oxiúros
A catapora perdida
Lhe deixou milhões de furos

Ela é feia, burra, chata
Mas há algo especial
(apaixona mais que as gatas
modelos da capital)
Por dentro de suas matas
O caminho vaginal

A muitos cabras bem machos
O desejo tem vencido
Sejam altos, sejam baixos
O bichinho é crescido
É como uvas nos cachos
Com um chessburguer metido

Tudo tem sua hora

Atravessou correndo uma rua
Movimentada da cidade de Campinas
Subiu sem cordas ao alto das colinas
Mesmo sabendo que o homem não flutua

Engoliu dois ratos e uma mosca
Defecou tudo isso pelo cu
E sem saber nada de Kung Fu
Desafiou o famaz Mestre Rosca

Fez tudo que se chama estripulia
E se safou sem nenhum ferimento...
Infelizmente, chegou o momento:
Jogou bola e foi pra enfermaria!

A Palavra é...

A palavra é
acima de dicionários, de gramáticas, de professores
acima de sonhos, de desejos, de futuros
acima de faca, de bala, de lâmina
A palavra é
acima de xingamentos, de provocações, de escárnios
acima de tenentes, de ignorância, de rispidez
acima de sons, de gemidos, de ondas
A palavra é
acima de receitas, de cozinheiros, de médicos
acima de japoneses, de árabes, de alemães
acima de diferenças, de semelhanças, de preconceitos
A palavra é
acima de terras, de mares, de céus
acima de ordens, de leis, de estatutos
acima de mim, de ti e de todos
A palavra é
acima de tudo
poesia