Frio. Os mamilos das meninas estavam duros como as pedras que encontrei pelo caminho. Os sacos escrotais dos meninos se recolhiam como um gatinho inofensivo diante do mais feroz predador. E eu, com as mãos nas axilas, batia meus dentes amarelos esperando a noite, velha companheira, preta e triste, para terminar mais um expediente de mesa, papel e escritório.
Era dia da morte de São João Batista, aquele que não é "um caniço agitado pelo vento". Não penso num caniço. Não penso nunca nisso. Apesar dos milagres que presencio diariamente, sou ateu. Ateu daqueles de rezar terços ao tinhoso, de retirar restos de fezes com páginas da Bíblia.
Naquele dia, eu vi uma menina cantando sozinha pela calçada da Rua Alfredo Rodrigues. "Foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez lá lá lá lá...". Aquele ursinho branco, barato e ridículo em seus braços e aquelas marcas de alegria e chocolate nos seus lábios finos me inquietaram. Menina maluca; eu, hein? E ela cantava mais alto. Fiquei cada vez mais angustiado, interno, comprimido, fazendo pequenas bolinhas com meus sentimentos, como fossem papel. Corri e a cada passo um emoção ia se abrindo qual uma boca no bocejo e, ao encontrar-me face a face com a desgraçada, gritei:
- Foda-se, guria... ok? Você é uma putinha, uma vadiazinha....
Ela saiu chorando com suas pernas rápidas. Eu ri e, fumando um cigarro, percebi que não gosto muito de pessoas felizes.
sábado, abril 30, 2005
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