quarta-feira, dezembro 29, 2004

Como eu faço um poema

O pâncreas do piano dorme sossegado
E a insônia coxa caminha no poeta
Sem sonho, sem lápis, sem audácia, injeta
Nas artérias do sono o vício alado

Sem sonho, sem lápis, sem audácia, injeta
Bibliotecas sofrendo dores do parto
Relógios de sangue cantam o tempo farto
No tom da sua parede ambulante e concreta

Relógios de sangue cantam o tempo farto
Baralhos elétricos prestam continência
À ignorante solução e à demência
Do dois de paus que eu, com orgulho, descarto

À ignorante solução e à demência
Rumam as tropas da favela sem espinho
Portas despetaladas, gotas de carinho
Só morrer e matar se tornam incumbência

Portas despetaladas, gotas de carinho
Eu gostaria de cuspi-las na tua alma
E nos penachos que enfeitam o teu trauma
Eu gostaria da tesoura e do sozinho

E nos penachos que enfeitam o teu trauma
Eu gostaria da tesoura e da coragem
De caravelas pra seguir essa viagem
De muitos livros, da razão e de uma calma

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