O passarinho sem penas
Ainda dentro do ovo
Comendo o seu vitelo
Ficando grande e gordo
Solitário em seu mundo
Sem saber o que é outro
Mas mesmo assim desejando
Conhecer o fora, o todo
Até que quebra a casca
Se desfaz dessa gaiola
Olha as palhas do seu ninho
Surpreende, casa nova
Aos poucos se acostuma
E ai não se conforma
Já tem penas, quer voar
Quer abrir mais uma porta
O pássaro insaciável
Com mais nada se contenta
Sempre quer ir adiante
Quer ver a outra cena
E de cena em cena ir
Conhecer todo o cinema
Querer sempre mais um pouco
Bendito mal de nascença
Se tudo tem um limite
Chega o limiar da vida
Ovo, ninho, céu, floresta
Velhice, morte, sina
A rebeldia é engano
A morte não cicatriza
Ela vem sempre certeira
Sempre morre, a coisa viva
De que adianta tanta busca
De que adianta ser um mangue
Vivendo no rio da vida
Com sal da morte no sangue
A morte acaba o existente
Só o vazio resta e brame
Essa passagem leva ao nada
Logo, nada é importante
quarta-feira, dezembro 29, 2004
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