domingo, julho 06, 2008
Alçapão
Vivia preso numa cilada
Por uma escolha premeditada
Era tão novo e inexperiente
Assim buscar ser mais contente
E ser feliz
Eu buscava uma esperança
No meu sonho de criança
Mas o vento que muda a mente
E o tempo que muda a gente
Pra ser feliz
Felicidade de um viver bem mais singelo
Felicidade de um Stilo amarelo
Pra voar pra qualquer lugar
Pra tomar uma pinga no bar
Duas mulheres vão fechar o teto solar
E a luz filtrada no insufilm irá mostrar
Os seus contornos que já vou desfrutar
E a vida nova que agora irei levar
E fica aqui a minha história de exemplo
Às gerações que se adiantam nesse tempo
Tomem cuidado, meus amigos, com as ciladas
Todas esquinas estão cheio de emboscar
Pra você não se limitar
A viver sem poder pensar
E viver sem poder falar
E viver sem poder viver
E sem poder ser você
Epístola a minha amada II
Pra ti é que entrego minha arte
Contrariando a frase de Descartes
Sem você, eu penso e não existo
Quando escuto o toque polifônico
Mesmo você sendo evangélica
Vejo uma virtude aristotélica
No nosso glorioso amor platônico
Espero que esse amor, que é panacéia,
Não perca todo brilho e toda luz
Por causa de sua crença em Jesus
Voltando assim ao Mundo da Idéia
Falo isso agora e ainda insisto
Para que não falhe num certame
Mesmo eu não espero que me ame
Mais do que já ama ao próprio Cristo
Faço um compromisso nesta data
Se for realmente o que deseja
Caso e faço festa na Igreja
E uso aliança de ouro ou prata
Se o nosso amor tomar materialismo
E nasce um fruto vivo da paixão
Convido pra padrinho meu irmão
Prometo que irei ao seu batismo
Quero me casar, não ser seu dono
Pra dividir a cama e a vida inteira
Deixo sua Bíblia a cabeçeira
E rasgo as Playboy's que coleciono
Agora a condição pro matrimônio:
Não venha me obrigar a ter um Deus
Pois eu pertenço ao grupo dos ateus
Não acredito em Deus nem em Demônio...
Trocas improdutivas
Que o conhecimento se insere
Existe alguma coisa que difere
Daquilo que era antes diferente
A sociedade humana já se sente
O grupo social ao qual adere
A mente mais confusa em bere-bere
Explica os valores de um carente
Espero que não troque por convite
Ver sua cabeça muito crítica
Mudada em uma consciência mítica
E se ainda for possível, que imite
Aquele que vive em moral e ética
Não troque tudo isso por estética
Ofício medianeiro
Incensando a sela de um artista
Os cachos da loirinha nunca vista
Presos num vermelho e belo laço
Procuro ocupação e eis que passo
Alguém que carecia mão e vista
Queria um mero datilografista
Pra colocar em folhas seu fracasso
Aceito o afazer, não tenho medos
Pois vejo que assim que se afeta
As mulheres, seus encantos e segredos
Acho nobre a profissão discreta
Sabendo que perpassam os meus dedos
A doce inspiração de um poeta
Resumo
A ponto de quase quebrar-lhe a venta
Pondo toda a força da jumenta
Que protege seu filhote de algum dano
Para toda ação existe um plano
Até a égua velha que acalenta
O seu potrinho novo e tudo enfrenta
Na paz de um monge bom e tibetano
Se acaso alguém vier retirar o pano
E as máscaras que o mundo apresenta
Deixando-o desse modo mais mundano
Aquele que desvenda, para e senta
Sabendo que o que chamamos ser humano
Se resume em corpo, alma e vestimenta
quarta-feira, março 19, 2008
Razão de Deus
Da força submissa do vassalo
Se esconde na vulgata e no papiro
Potência mais balística do tiro
Levado pelas patas do cavalo
Espadas e outras armar que ia dá-lo
Aos duques e barões que me refiro
O calcanhar de Aquiles ganha giro
No homérico incômodo do calo
Já nota no fervor do seu denodo
Vontade conseqüente de sossego
Vista no cochilo visigodo
Para desmentir o seu apego
O que desconhecia como um todo
Dizia ser por culpa de um deus grego
domingo, março 16, 2008
Um certo testamento
Eis que nos conta a península Ibérica
De um testamento feito por Adão
Na língua nativa e escrito à mão
Só dois países dividem a América
Área bem rica, riqueza tamanha
Planícies, planaltos, os andes, as ilhas
Foi divido tudo em Tordesilhas
Só entre dois: Portugal e Espanha
Aí que começa um pequeno jogo
Léguas a menos, esqueda, direita
Um não aceita, o outro aceita
Mas acreditam com a mão sob o fogo
São coisas do passado, o tempo leva
Mas no palco eterno do momento
Ficou ali guardado o testamento
Do esposo da querida Eva
E esse fato pesa sobrew mim
Escrito no contexto mais correto
Perfeição caligráfica do alfabeto
Do idioma oficial de um Jardim
Jardim do Éden, plano vivo da memória
Não adianta gritar "não acredito"
O testamento ainda permanece escrito
Nas cabeças que alteram nossa história
segunda-feira, março 10, 2008
Explosão mixta
Vejo na pupila do olho que eu vejo
Um poço de água parada e vermelha
A chuva, a paixão que escorre da telha
A gota do céu que vem tocar no beijo
Reflexos teus que a beleza espelha
O fogo apagado querendo a centelha
Mas olha nos olhos, só olha - diz nada
Cala-se, muda, lhe falta o assunto
Descobre que é, nos meus olhos, a amada
Depois ajoelha e diz de pé junto
Que vai ser centelha da chama apagada
Para explodir cheirando a presunto
sexta-feira, março 07, 2008
Cavalheiro em lágrimas
Desce do cavalo e brilha a bota
E os estribos pendurados sob a sela
Com sua elegância, sempre a mesma
Procura carinhoso pelo amor
Da beleza que essa busca já denota
O insucesso de quem perde a sua bela
A tristeza meio lenta, meio lesma
Suportando as dores fortes do amor
Lacrimeja na gravata, o janota
Relembrando o gosto bom do beijo dela
Com poemas, já gastara mais de resma
Coloridos com o seu lápis de cor
quarta-feira, março 05, 2008
Nacitura
Na homeopatia das micoses
O feto, esse ser inda não feito
Alejado no caminho mais estreito
Na senda homeopática das doses
Hematomas, tumores como nozes
Afável aconchego de seu leito
Mantendo um coração fora do peito
E um reumatismo idoso das artroses
Mudança antitética da idade
Um pulmão externo na narina
Sentir sabor de morte em navidade
Agulhas na veícula muito fina
Buscando no poder dessa vontade
Direito de permanecer menina.
sábado, março 01, 2008
A Nitidez dos quadros
No arco capaz de um cosseno
Um compasso que desanda na manobra
Inocula no papel o seu veneno
Que tirara da fosseta de uma cobra
A mão do desenhista mais sereno
Aquela no qual tudo se desdobra
Impõe no seu quadrinho mais moreno
O preto que em sua pelo ainda sobra
Velho experiente, barba branca
E branca a tinta usada no pincel
Comprada certa vez na zona franca
Usada até para pintar o céu
Pintou uma maça, uma mocinha
E fez com um traçado mais antigo
Pra vida não ser chata como a minha
Pintou pra si o próprio inimigo
Pintou aquilo tudo que não tinha
Um quadro bem mais belo do que digo
Mais belo que qualquer palavra minha
Eu tento expressar e não consigo
Apagava, repintava, dava enfoque
A tinta estava fresca e ainda fria
Seis dias inteiros de retoque
Pra descansar no tal sétimo dia
Descanso eterno, digo, meu Sherlock
Depois de tudo pronto, já dormia
Levou na testa o tiro de uma Glock
Pintor, coitado, se descoloria...
terça-feira, fevereiro 26, 2008
Freirinha Incontrolável
A freira impaciente com colheres
Passara o dia na cozinha do convento
Mister de preparar o alimento
Pra todas outras freiras, só mulheres
Dez já muito velhas, duas gêmeas,
Dez branquinhas e uma branca e meia
Quatro negras e uma muito feia
Em todo lado só havia fêmeas
Impaciente, desejava um macho
Pra lhe apertar a bunda de saúva
Ou então pra lhe chupar a uva
Melhor ainda se chupasse o cacho
Passou pelo jardim e olhou um galho
Pegou da faca e o deixou bem liso
Passou óleo e fez o que é preciso
Para usá-lo à guisa de caralho
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
Mudar de idéia
Filosofo. Vida e morte - nada apenas
Só promessas de um deus ou de algum clero
Como fossem poemas de Homero
Recitados pelas praças de Atenas
Ou poesias para seduzir pequenas
Dos românticos no mundo mais sincero
E até mesmo eu dizendo que não quero
Já aplicam em minha mente as mesmas cenas
Filme besta, me renego a assisti-lo
Grito, berro, corro, faço alarde
Na pequenez e na força do bacilo
Se a idéia na cabeça ainda arde
Me imponho um hospício ou um asilo
Mas temendo que agora seja tarde
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
Apocalipse Atômico
Rolam cabeças brancas de semitas,
árabes, judeus e de camitas
egípicios, bérberes e absínios
Jorra sangue branco de eslavos
russos, os coitados dos polacos
misturados com tchecos e eslovacos
ucranianos e até mesmo iuguslavos
O germano já sucumbe hipocondríaco
Com teutões, suíços e ingleses
Na brancura de cinco neerlandeses
Empurrada boca a dentro do austríaco
Dizima-se homens nus, todos os índios
Os mongóis, esquimós e tibetanos
Os malaios, polinésios, turcomanos
Com chineses, samoledos e ameríndios.
E o horror do sangue preto chega a Deus
Rezam mortos sudaneses e hotentotes
Bantos, drávidas e vedas, em magotes
Enterrados com cinqüenta pigmeus
Que resta do mundo sem as raças?
Só cheiro do sangue que sai do corte
Só cheiro desse pus, da própria morte
Só cheiro das misérias das desgraças
Que guerreiro legionário ou hoplita
É capaz de acabar o mundo inteiro
Lhe deixando nada mais além de cheiro
Dessa morte, morte propriamente dita?
Um terror que o mundo inteiro tomba
O que podia ser um simples genocídio
Se tornou o que se chama suicídio
Num estilhaço mais atômico da bomba.
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Soneto da otária
E disse na axila o que havia
Não era mama supranumemária
Nem tampouco era a tal polimastia
Confundiram com sintomas de malária
E de noite, já defunta, toda fria
Lhe chuparam toda glândula mamária
E os mamilos dessa pobre moça esguia
Prescrutando toda a área do pudendo
Eis que acharam o seu hímem cibriforme
E entre pêlos lhe acharam o clitóris
Na nefasta provação que segue sendo
Lhe notaram que um lábio era enorme
E sugaram outros lábios bem menores
A mulher de verdade
Existem meninas por aí que tentam se esconder por trás de frases de repulsa, mas que cedem. "Não venha me queixar", como dizem as cearense. "Só fico com homens mais velhos", a que já se revela. A mulher de verdade não fica com homem algum. E se fica, não revela, ninguém sabe. "Só fico com intelectuais" e faz-me rir e nem comento. Inteligência não se diz, não se mede; se demonstra, se planta, se colhe, se produz. Essas daí só servem de fundamento e refúgio para o consolo dos fracos, que põem a culpa dos seus insucessos na ausência de dinheiro e automóvel. A menina conquistável se conquista pelo metódo, de forma pragmática. No entanto, não é dessa que me refiro. Refiro-me, sim, a mulher de verdade. Aquela que não atende a apelos. Aquela que faria qualquer favor do mundo, mas ninguém tem coragem de lhe pedir.
A mulher de verdade é firme e confiante. Não tem receio da companhia masculina porque tem certeza que de ninguém se atreveria a algo a mais do que a companhia. A mulher de verdade é sempre mulher casada, mas não usa nem marido nem aliança. Aquela que não trai a si mesma, a suas convicções mais íntimas, a seus dogmas. A mulher de verdade é por natureza misteriosa. E a cada mistério do Terço contemplamos sua face. É aquela de Bilac, é aquela de Camões, é aquela dos poetas que morreram de amor. Aquela que não se encanta com rosas nem com poemas. A mulher de verdade está sempre de óculos, estando carregando ou não alguma lente sobre o nariz. Tem um olhar indecifrável, ninguém conhece suas intenções e nem pode conhecer.
A mulher de verdade é boa mãe, apesar de ser virgem. Ela valoriza cada uma das 6 letras da palavra Mulher e quando assopra deixa o ar mais sublime. Seu perfume não é descritível nem Descritiva. Não obstante isso tudo, penso diariamente que as minhas paralelas ainda se cruzaram no coração dessa mulher.
terça-feira, janeiro 22, 2008
Caminhos in versos
E o outro mundo inteiro toma nota
Quando sabe ao certo a direção correta
E o sábio vem dizer todo janota
Que seguir a multidão é ser pateta
Bom da vida é seguir a nova rota
Alisando suas barbas de profeta
E pagando das cachaças sua cota
Não ouvir essas besteiras de poeta
Botando a calça e até calçando a bota
Costurando na fazenda mais discreta
As cabeças desse gado que se esgota
Nos perigos de se ser um mente aberta
(Bem menores do que os de abrir a porta)
Se constrói pouco a pouco a rota certa
Já cortada por atalhos que se corta
Nos retalhos que se compra por oferta
Nesse bolo ou estrada que é torta
No momento em que o coração se aperta
Dilatando em latas toda a artéria aorta
É que vemos que a estrada mais deserta
São desertos em que a própria mãe aborta
E se olharmos com o olhar do mais alerta
Notaremos pelos becos gente morta
Nas entranhas dessa gente que não presta
Nos joelhos dessa gente se prosta
Nesse mundo, quem enfrenta fica a testa
Mas quem foge, o covarde, fica a costa
Que um tiro, nesse fôlego que resta
Derradeira convulsão do que se gosta
Não transforme essas fezes numa festa
Nem transforme minha torta em pura bosta
Na passagem dessa vida tão funesta
Na postagem que correio nenhum posta
Entre a vida e a morte, parto desta
Pois daquela já no parto se desgosta!
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Smegma
Depois de acabar com a formiga
A cigarra foi embora em paz
Cabreira e olhando para trás
Medo de água
O cavalo montado sobre o sertanejo
Olhava o sertão tão seco
Que resolveu ficar por lá mesmo
Paladar aguçado
O cachorro exigente não queria picanha
Ficou no canto do quintal e latiu
Só como hoje se for macaxeira frita
Bicho esperto
O calango cinza era mais camaleão
Só andava em muro chapiscado
Não queria dar bandeira
Transferência de temperatura
O químico idiota passou meia hora pensando
Não sabia explicar como existia
Água quente e gelada no mesmo bebedouro