segunda-feira, dezembro 24, 2007
Conselho de Amiga
E nem sempre acontece o esperado
E é com o coração despedaçado
Que eu tento observar essas figuras
Nessa vida que a vida tem me dado
Procurei e escalei muitas alturas
Descobri que as montanhas são seguras
Mas caí de lá de cima, estatelado
Queda feia que nem quero expor a causa
Mas feriu o corpo, a alma e o coração
Foi profundo o ferimento sem perdão
Mas sabemos - toda música tem sua pausa
E depois de sua recuperação
Deixe a cama, desarme essa tua rede
E escale novamente essa parede
Já sabendo onde vai pôr sua mão
Pois amizade se constrói como escalada
Mão a mão, pé a pé e passo a passo
Até chegar num ponto mais devasso
E nele ir partir pro tudo ou nada
Se cair, não desmaie, se levante
As pausas deixam a canção mais bela
Recomeçe o final dessa novela
Vá de novo, vá e sempre siga adiante
Sei que as vezes quando dói mais forte o peito
Quando ela não entende tua fraqueza
E inalcançável já torna sua beleza
Tudo parece impossível e até sem jeito
Ninguém é um herói ou um gigante
Todos temos nossos erros, nossas falhas
E ficamos impedidos por muralhas.
Se isso for pra ti tão importante,
Corra, vá atrás e busque ter...
E mesmo que não consiga, meu rapaz
Finge que conseguiu, mas ora mais!
Um dia ela vai compreender...
sexta-feira, dezembro 14, 2007
Daqueles que dinheiro nenhum paga
Escutei as velhas de Luiz Gonzaga
E me empolguei nas de Petrúcio Amorim
Deitado numa linda rede maia
Esperava minha prenda embriagada
Só 10 copinhos, muito pouco, quase nada
E ainda a cachaça era mó paia
Via o Anjo Querubim em um Cenário
Que de amor dava vontade de se amar
Me alembrei de Vaca Estrela e Boi Fubá
E escutei um canto belo de canário
Quando chega minha prenda lá na rede
Eu escutava a musiquinha de Petrúcio
E ela louca já pegou no meu prepúcio
E me levou com ela junto pra parede
Sorte não era a tal parede de reboco
E nosso quarto era bonito e era grande
Rapidamente já pegou na minha glande
Minha prenda sabe me deixar bem loco
Sem vestidinho de chita, ficou nua
Me fez amor gostoso a noite inteira
Daquele amor no qual é bom falar besteira
Daquele amor mais quente, amor que sua
Mas de manhã cedinho tinha agenda
Uma conversa de negócio já marcada
Então beijei a minha prenda ali deitada
E fui embora só pensando em minha prenda...
segunda-feira, dezembro 03, 2007
O próprio sangue que condena
Um resíduo muito estranho na saliva
Analisando na papila gustativa
O efêmero prazer de outra louca
Gritos. "A outra vez inda foi pouca?"
E o amargo que saía da gengiva
Era a marca de uma língua mais lasciva
Penetrada em sua cavidade oca
A mulher, na menopausa, aborrecida
Deixou que ele partisse, muito sério,
Até morrer no cruzamento da avenida
E antes de o enterrar no cemitério
Viu no sangue que escorria da ferida:
Hemácia, hemoglobina e adultério...
quinta-feira, novembro 22, 2007
Confissão do bom marido
Dos amores que a vida tem me dado

Apesar de estar sempre ao teu lado
Também estive ao lado de alguma amiga
Não obstante a aliança no meu dedo
Entrelacei os mesmos dedos noutra mão
E mesmo dando inteiro a ti meu coração
Em outros peitos que eu guardei o meu segredo
Os anos findam e não se morre assim, querida
E te revelo para as tuas amarguras
Que realmente vivi outras aventuras
E nesses anos uma paixão foi escondida
Sabe o café ali na Praça da Cascata?

Eu te confesso que o que sempre me atraía
Não foi o jogo, o xadrez ou o meio-dia
Nem tampouco era o café... Era a mulata!
E aquela preta que aqui em casa trabalhava?
Não ficou pela faxina ou pelo almoço
Até mesmo já me deu arroz insosso
Mas ficou por outra coisa que me dava...
E aquele tempo que era a mais na carga horária?
Se cheguei mesmo algum dia após a janta

Não foi devido à tarefa que era tanta
Te confesso: foi por minha secretária
E as várias vezes na escola que eu fora?
Não foi porque sou um pai muito dedicado
Nem pra saber do nosso filho o resultado
Que me levava até lá? A professora
E aquele dia que me levantei da cama
Dizendo que mamãe era doente?
Ninguém estava em casa - estava ausente.
Adormeci com uma garota de programa

E agora vendo as lágrimas na face
E eu já caduco, moça alguma me deseja
Vou abrir pra nós a última cerveja
E após tudo, só queria que me amasse!
quinta-feira, novembro 15, 2007
As maravilhas do amor
Iluminava nossas almas na areia
Eu sentado ouvindo o canto da sereia
E deitada ao meu lado a moça nua
Verde a noite, verde o mar e verde o olho
Serena, o cabelo já sem trança
E sentindo em mim a própria segurança
Era tranca, grade, alarme, sol, ferrolho
Eu olhava admirando e assim me veio
A vontade de beijar-lhe o mamilo
Me contive. Num instante de cochilo
Não contive minha mão. Toquei-lhe o seio
Acordara, mesmo assim não se mexia
Abriu o olho e fechou, a piscadela
E deitada sobre a areia era mais bela
E a areia nessa noite era mais fria
E respondeu ao leve toque com calor
E eu sentia em minha mão o gesto lento
Do mamilo se adequando ao sentimento
Da mulher que se prepara para o amor
Dei-lhe um beijo, mas permaneceu parada
Respirava, e agora um pouco mais profundo
Inspirando todo amor que há no mundo
E expirando o prazer de ser amada
Inerte ao meu carinho, a todo toque
Apelei, impaciente com a menina,
E coloquei-lhe minha língua na vagina
Esperando reação, ou algum choque
Nada. Imóvel, uma pedra já sem vida
Salvo algumas contrações que eu sentia
Em minha boca e alguma coisa que escorria
Com o gosto de uma fruta indefinida
Desisti. Necrofilia não aceito
Decidi voltar pra casa assim ligeiro
Encostar minha cabeça ao travesseiro
Mas querendo a maciez daquele peito
Levantei-me já estava decidido
Olhei aquela pedra sem desejo
E despedindo-me no derradeiro beijo
Escutei a sua voz em meu ouvido
"Adorei aquele toque no meu seio
Adorei aquele beijo em minha boca
E por dentro estremeci como uma louca
Ao sentir a sua língua bem no meio
Não se abandona dessa jeito a moça nua
Quero você e sei também que você quer
Entra em mim, me faz feliz, me faz mulher
Acelera, vem mais forte, continua..."
E se amaram desde a areia até o mar
Vendo o verde nos olhinhos de princesa
Maravilhosa, encontrou sua beleza
Nessa bela maravilha de se amar!
quarta-feira, novembro 14, 2007
Conselho de amigo

Às mulheres que ficaram no desejo
Na espera da ardência do meu beijo
Que quiseram meu amor, e não lhes dei
Deixo isso aos corações que se partiram
Aguardando o toque de um lábio doce
Ou até mesmo se amargo o lábio fosse
Só quiseram o meu beijo, e não pediram
Deixo aos corpos que à noite se fizeram
A esperança que esquentava a essas damas
Se reviravam enlouquecidas pelas camas
Queriam meu amor, e não disseram
Deixo à vergonha no altar da vergonhice
Da donzela que no quarto feito breu

Queria ter meu corpo sobre o seu
Só queria, bem queria, não me disse
Deixo à lágrima que ao rosto se destila
Escorrendo até as pontas do cabelo
Fazia-me de amor, e eu sem sê-lo
Queria ser feliz, e eu não fi-la
Deixo agora às moças cheias de recato
Que queriam minha boca e minha idade
Sem palavras, a vontade é só vontade
Com palavras, a vontade vira fato

Deixo ao rubro dessa face de guria
E ao piercing sobre a língua feito trava
Se dissesse que queria, eu lhe amava
E pedisse um beijo meu, eu beijaria
Se a paixão em ti fincar sua raíz
Eis que deixo esse conselho para a amiga
Sinta, sem pudores, peça, diga
Se o beijo e o amor te faz feliz
sexta-feira, novembro 09, 2007
Porque Marcos traga
Não sou muito dessas modernidades, mas pelo que entendi IRC era uma rede de conversa, no qual havia alguns canais, como se fossem salas

Certa feita, Marquinhos movido pela curiosidade solicitou uma tragada no Derby. O gordo lhe deu o filtro e mais uns milímetros de cigarro suficientes para duas. Primeira vez da criança, nem sabia o que fazer. Chupou, soprou e se sentiu o cara. Quem sabe tudo aquilo fosse mais uma tentativa de se inteirar ao grupo, ou de se fazer notar pelos que tinham a sua idade. Pouco importa. O que importa é que aquela prática se tornou freqüente. Marcos fumava ali as guimbas de Carlão, sem nenhuma dignidade, mas achando que era alguém. As senhoras que tinham por hábito o fumo certamente jogariam ao lixo aquela etapa de nicotina, porém o gordo achava por bem dar ao amigo pedinte. E assim era o que acontecia.
Aos 13 anos, Marcos se atreveu a pedir um cigarro inteiro. Foi-lhe dado de bom grado. Ganhara um pouco mais de dignidade agora, porém esse pedido também ganhou uma maior freqüência. Tal fato vez com que o colega de mais peso começasse a chamá-lo de “sugão” – denominação essa que tentava definir a pessoa que se utilizava dos bens alheios indefinidamente. Ele não sustentou o pseudônimo por um ano. Aos 14, tomou uma medida decisiva na sua história: despendeu a quantia de 10 centavos pra comprar o Derbão na unidade, ou picado, como se diz em Minas. E continuou comprando o fumo de 10 centavos todos os sábados que ia ao shopping na banca de revistas do lado externo, até que quem tomou uma medida decisiva foi o Congresso Nacional e o então Presidente FHC, com a lei de número 9294, n

O artigo 2º proibia o fumo em recinto coletivo e isso foi a causa da decadência dos encontros no shopping. Carlão não ia mais – não podia fumar lá. Daí os outros começaram a também não ir, e ninguém mais ia, e ninguém mais foi. Há teorias que dizem que essa lei foi que ocasionou o fim da moda do IRC, substituído com êxito pelo MSN Messenger. Muitos protestam pela volta das conversas nos chamados canais, onde podiam expor suas idéias pra muito mais gente, mas o fato é que realmente o IRC submergiu, e junto a ele o fumo de Marquinhos.
Aos 16, retomou. Mas agora já não era mais Marquinhos, já era Marcos. Começara a sair com os amigos para as festinhas da cidade. Já tragava até, Carlão havia ensinado. Cara, puxa como se estivesse bocejando, abre a boca. Ah! Cara, não tragou, saiu a fumaça toda. Tenta de novo. Didática com utilização de métodos e tudo. E se pôs a praticar o fumo, ora “sugava”, ora comprava o tal do picado.
Nem contei que o menino era dado às letras, mas o era. Escrevia um poeminha aqui e ali, ou um conto sem muito vulto. Já tinha sido premiado, mas esses prêmios de colégio, nem contam. O que ocorreu foi que Marcos se atreveu a começar um romance e nem sei por que cargas d’águas achava que, se tomava uns tragos de rum e tirasse o gosto da boca com o Derby, teria maior inspiração. Foi a primeira vez que tirou do bolso mais de 1 real para o fumo – comprara um carteira com 20 cigarros. Nem havia se utilizado de uma dúzia deles, e já perdera o fôlego. Não dos pulmões, mas o fôlego literário imprescindível para escrever o romance pretendido. Depois de completar os 17, começou a estudar para o vestibular. Parou com a nicotina e, bom de cabeça, passou.
Foi estudar Matemática em outra cidade do interior de Minas. Nem se encarregou de fazer muitos amigos. Assimilou bem a responsabilidade que vem junto da liberdade adquirida. Não fumava, nem bebia. Dedicava-se ao estudo e vivia vida regrada, e isso tudo tinha um fundo de mostrar pra mãe que era bom menino. Mas a vida assim, sabemos, fica chata. E ele transferiu a chatice da vida para o curso de Matemática, suas equações, teoremas e algebrismos. Resolveu mudar de faculdade e no mesmo ano fez vestibular para Direito em outra cidade do interior. Pelo fato d

Aos 19, começou a fumar Carlton, mais barato. E se utiliza disso sempre que podia. Antes do café, no intervalo das aulas, esperando na fila do banco, ou do barbeiro. Às vezes já acende o próximo com o rabinho do outro. Às vezes apaga no meio devido ao início das aulas e reascende o mesmo ao término. Hoje Marcos fuma com muito mais dignidade do que naquela época do IRC. O tempo foi evoluindo e o hábito foi seguindo às linhas do tempo. Fuma sempre, mas por querer, gosta, não é vício. Já faz isso há 7 anos, mas concordo com ele, não é vício.
quinta-feira, novembro 01, 2007
O Free Rider da mão invisível

No início da década de 90, quando cheguei ao bairro que resido atualmente em Fortaleza, chegaram também o furto e a violência. Não os trouxe, juro, mas vieram. Por causa disso, o pessoal do quarteirão resolveu contratar um vigia para prover a segurança mínimas às casas no período noturno. 60 casas, cada uma pagaria 10 reais, 600 reais, bom dinheiro, dava para um cidadão viver dignamente. E acertou esse valor com Seu Cosme, já senhor maduro tendo por hábito o fumo de cigarros que ele mesmo fabricava. O cheiro dos tais já o identificavam. De início, tudo bem, mas sempre há um esperto.
Meu vizinho Marcelo resolveu parar de pagar. Alegou doença da sogra, despesas a mais com uma das dependentes que declarara no último Imposto de Renda, estava apertado, duro, liso. Sem erotismo, por favor. Mas o fato é que Seu Cosme continuou exigindo os 600 e para não descontentar o cabra velho, cada um tinha que pagar agora o valor de 10 reais e 17 centavos. Nem me importei de início, dava até 50 centavos a mais do que antes. Mas o que aconteceria se Seu Cosme visse um malandro adentrar a casa do Marcelo para roubar? Decerto a omissão como forma de vingança, ou simplesmente de justiça, poderia ser vista pela Justiça no artigo 186 do Código Civil como ato ilícito. Teria de exercer sua função profissional, mesmo sem receber nenhum centavo do roubado.
O pior de tudo é que foram percebendo isso, ou melhor, fomos. Houve uma epidemia no quarteirão. As sogras começaram a adoecer, os salários reais foram diminuindo por causa da inflação, os meninos novos começaram a entrar nas escolas particulares, e os gastos estavam cada vez maiores, consoantes afirmavam os moradores, impossibilitando o pagamentos da mensalidade para o vigia. Assim, eu fui pagando cada vez mais por mês, até ficar numa situação insustentável, porque não poderia dar sozinho 6oo reais para o vigia.
Isso é o "free rider problem". Porque eu pagaria por um benefício se posso pegar carona no benefício que o outro já paga? Se ninguém pode me excluir por inadimplência do usufruto de determinado bem, melhor ficar sem pagar que gasto o dinheiro no shopping mais tarde. Porém, visto que há muitos espertos para poucos otários, acaba que ninguém paga nada, e ninguém recebe nada também.
Esse fato também justifica a existência dos bens públicos, regulamentos nos artigos 98 e 99 do Código já citado. Já pensou se privatizassem as Forças Armadas? Você pagaria por elas, mesmo sabendo que as fronteiras do seu país estariam a salvo, já que alguém do país paga e tem direito a isso? Eu pagaria, mas somente se não houvesse conhecido Marcelo. Hoje em dia, não pagaria mais não. E se todas a costa brasileira fosse privatizada? Você pagaria, mesmo sabendo que qualquer uma poderia tomar banho de mar, pagando ou não?
O problema é este: se todos podem fazer, ninguém faz, porque pensam que outro poderia fazer no seu lugar. É o que ocorre no Brasil com os assuntos de maior relevância. A assembléia constituinte de 1988 colocou como competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no seu artigo 23, as principais preocupações nacionais: democracia, saúde, cultura, arte, educação, ciência, meio ambiente, fauna, flora, alimento, moradia. Mas como todos podem fazer, ninguém faz, deixa como está.
"Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio 'auto-interesse'", afirmou Smith. "Minha sogra tá doente, tem como pagar não", disse Marcelo. "Quero meus 600!", exigiu Seu Cosme. "Não posso pagar tudo sozinho", falei eu. E assim o Free Rider deu um aperto na mão invisível, e sairam por aí contando sobre a realidade que acontece hoje no Brasil, como já dizia Gil Vicente no seu personagem Belzebu:
Para que sirva de aviso,
mais uma transa se escreve:
Todo Mundo quer Paraíso
e Ninguém paga o que deve
Depoimentos à laia de valsinha para damas
(Sol)
Você é minha alvorada
É como uma fada
Feita só de luz

Você é a estrada clara
Onde a lua pára
E o sol reluz
Você é o amanhecer mais puro
Que destrói o escuro
Com seu arrebol
Você é a luz mais reluzente
Que me faz contente
Você é o sol!
Você é Anna Sol Faria
A mãe da alegria
Que em ti se leu

Você além de ser a fada
É a namorada
De um amigo meu...
(Cláudia)
Você é a florzinha branca
Que entra e tranca
O meu coração
Você é bela pianista
Que só me conquista
Com sua leve mão
Você é uma poetisa
Que me concretiza
Um sonho irreal
Você é algo impossível

É o amor visível
Navegando a nau
Você é a vaga e a procela
É a moça bela
Que me fala sim
Você é moça pura e crente
O melhor presente
Que Deus deu pra mim!
(Beatrice)
Ela é a borboleta leve
Que em nada deve
A um beija-flor
Ela é a garotinha esperta
Que sempre está certa
Ela é um amor

Ela é um pinguinho moreno
Pinguinho pequeno
No papel de Deus
Ela é a melhor fantasia
Que se principia
Num dos sonhos seus
Ela é a Dona Beatrice
E quem quer que visse
O que ela é
Lhe diria você é o mundo
Algo mais profundo
Que tudo que é...
quarta-feira, outubro 31, 2007
Depoimentos à guisa de valsinha para cavalheiros
(Danilo)
Você é o moço Danilo
Nem sempre tranqüilo
Vai pra Alles Beer
Você é a moça Danila
Que dá a mochila
Para eu sair
Você pirua Infantaria
É a alegria
Do seu pelotão
Você é um cara muito ativo
Com o qual convivo
Como fosse irmão
Você dorme ali pertinho
É o meu vizinho
E eu sou seu fã
Porque daqui a pouco tempo
Estará ao vento
Da temida AMAN!
(Linnus)
Você é um negão valente
É inteligente
Sabe investir

Você sabe montar um carro
Sabe ir pro barro
E depois polir
Você domina a Asa Branca
Você abre e tranca
A porta do saber
Você que escolheu a vida
Trabalha com bebida
Pra depois beber
Você é pai das criaturas
Mais lindas e puras
Que Deus fez criar
Você é pai dessas sobrinhas
Tão pequininhas
Do meu Ceará
Você também é a estrada
É meta buscada
Caminho conduz
Você é meu melhor exemplo
Você é um templo
Onde eu busco a luz!
(Monnerat)
Você é um grande desenhista
É uma coisa mista
Coisa boa e má
Você é um cara criativo
Por isso, convivo
Com o Monnerat
Você já é meu companheiro
Nesse ano inteiro
De preparação
Mais companheiro nós seremos
Pois dividiremos
O mesmo pelotão
Você é um ser que considero
E que eu espero
Ter no amanhã
Como um presente amigo
Em qualquer perigo
Que eu passar na AMAN!
(Feitosa)
Você é MatBeliano
Você tem um plano
A executar
Você é o homem que relaxa
Que espalha graxa
Faz ela brilhar
Você, guerreiro da cautela,
Mexe na biela
E no caminhão
Você trabalha no pesado
E em um blindado
Faz manutenção
Você em breve um cadete
Vai deixar lembrete
Em qualquer papel:
"Mamãe não vou voltar pra casa
Vou pro Manda-brasa
E sou MatBel!"
(Alisson)
Você é jogador de hand
Disso não depende
Clima e lugar
Você também joga CS
E não obedece
Quem não quer jogar
Você talvez jogue porrinha
Junto da vizinha
Ou quem sabe não
Você já joga tudo errado
Tiros com teclado
Futebol com a mão
Eu sei, você não tem pistola
E se chuta a bola
Vai ficar oval
Jogando o jogo da vida
Que é decidida
No placar final...
(Figueiredo)
Você é um grande despautério
Nunca fala sério
É imitação
Você é ovelha clonada
E a mais engraçada
É do Luizão
Você entende patavina
Você é a Dina
De Xambioá
Você é cearense nato
Mas no "mei do mato"
Resolveu morar
Eu não conheço sua história
Nem a sua glória
Nem a sua dor
Mas vejo por cima do muro
Um grande futuro
De um imitador!
(Leonardo Mota)
Você é um cara que não bebe
Turma Heróis da FEB
Homens de amanhã
Você persegue sua meta
E de "bicicreta"
Vai chegar na AMAN
Você pode andar de "mota"
Paga sua cota
Anda de busão
Você torce pro Fortaleza
Sempre, com certeza,
Vai pro Castelão
Você é arataca forte
Que vindo no norte
Para aqui morar
A mão no fogo por ti ponho
Realiza o sonho
De ser militar!
(Felipe Araújo)
Você é um urubuzinho
Sobrevoa o ninho
Para defender
Você é um garoto bom
Que se for pra EFOMM
Irá enriquecer
Você conta muita lorota
Bebe a meiota
E sempre irá beber
Você é como um caramujo
Da lagoa cujo
Lema é vencer
Você não fuma o careta
Usa roupa preta
Pensa que está nu
Assim é que alegra a gente
É eternamente
O eterno Ururu!
terça-feira, outubro 30, 2007
Parabéns pro bloguê, parabéns pro bloguê...

Após 3 anos de pouca dedicação literária, consigo chegar me arrastando à centésima postagem. E não há como não comemorar esse marco, porque foi o blog que me deu a idéia de quantidade poética que já saiu dessa cachola. Sempre quis ter os números da minha produção, aliás, sempre fui fã de números. Mas digo mais: além da quantidade, o desgraçado do blog ainda me deu estatísticas passíveis de análise, não só de fabricação de poemas, mas também de épocas e sentimentos da própria vida.
Depois de todo esse estudo estatístico, concluo que: foi bom. Hoje leio isso tudo como se nem eu mesmo fosse mais o autor. Critico, cuspo, não gosto, discordo, concordo, me apaixono e reapaixono, tanto por dona Lica quanto pela guria dos sonhos meus. Sem falsa modéstia, gosto desse tipo de literatura que foi produzida. Crua. Vejo o quanto já fui um pivete mongol e quanto já fui bem mais velho do que sou hoje. Cada um dos 100 textos, escritos por 100 pedros roneys diferentes, da forma mais pedroronesca de se amar. Fora os depoimentos nas tecnologias de orkut (em breve postarei), as cartas de colégio, de correio, e as várias idéias que acabaram em pizza, ou melhor, no pão-pizza da tia do guaraná. Ainda lembro quando tudo começou, quando o menino andava tocando aquelas músicas pelas alamedas da casa amarela. Mas isso não volta mais. Ninguém consegue permancer o mesmo depois de 100 dessas. Ninguém.
segunda-feira, outubro 29, 2007
Sejamos!
E ei-lo! :
Numa aula de matemática da quinta-série, o menininho ouvia atento os algebrismos. No meio deles, sem pedir licença nem permissão, rasgando a lógica do problema exposto no quadro negro, na verdade verde - uma frase. Resolver problemas é uma simples questão de habilidade ou tempo, mas gerar novos problemas ou olhar os antigos com um ângulo novo requer imaginação criadora, e é isso que contribue para o progresso da ciência (EISTEIN, 19??). Me abstive da gramática e das aspas porque não quero conceder ao grande físico palavras que não sejam suas, mas que foram essas palavras usadas e esse o cara escolhido como autor, isso foi, conforme disse o mestre. E o mestre que falo, foi professor nosso, Geraldo Macêdo, com acento circunflexo no e, escrito com sua mão canhota.
Quem sabe seja nossa intenção isto: pintar esses modernismos nas mentes mais atentas da atualidade, mesmo que depois seja apagada com cal. Apesar de levar a escalação da seleção brasileira de 1994, o poema Cante Lá que eu Canto Cá e uma dúzia de partidas de xadrez na memória, ainda me sobra um abismo de conhecimentos vagos, que existem e não detenho, outro detém. Por isso que nós reunimos aqui, alguns amigos de longa data, outros de data nem tão longa assim, pra juntar os abismo que se chamam, que gritam com os ecos dos próprios abismos. Abyssus abyssum invocat. Para comungarmos juntos do mesmo pão, pão de Ló. Quem sabe não sirva pra alimentar jumentos, mas somos um pouco menos que isso, somos gente. Ou pelo menos, sejamos!
quinta-feira, outubro 18, 2007
Vagina Paradoxal
Sebastião voltou para casa rindo à-toa. Já tinha amanhecido e nem tinha dado notícias para ninguém. Ignorava, mesmo assim, as milhões de possibilidades de problemas que poderia vir a ter pela ausência de aviso. E outros problemas bem piores do que um grito da mãe ou uma palmada do pai, devido à experiência nova que tinha vivido aquela noite. Sebastião, naquela madrugada de sexta para sábado, tinha tido sua primeira experiência com buceta.
Feliz da vida, chegou em casa, todos dormindo. E se não fosse o timbungar do galão de 20 litros de água, quando enchia seu copo para matar a sede, ninguém saberia que só tinha voltado nesses horários incertos. A mãe preocupada acordou, lhe perguntou onde estava até aquela hora, com quem, coisa de mãe. Ele deu seu jeito de mentir com histórias estranhas que não seriam aceitas como verdade se sua mãe tivesse acordado uma hora antes. O sono confunde bastante a inteligência da gente.
O moço deitou-se na rede, ainda esboçando o riso de não parava. Algumas experiências na vida nos fazem refletir bastante, principalmente aquelas que nos marcam por todo o sempre. Se alguma coisa devia figurar em todos os perfis de orkut no quesito paixões, era ela, a buceta. Ela sim tem algo de apaixonante. Dizem os versos, que quem tem uma viola só chora se quiser. Isso devido a existência de meia dúzia de cordas para agradar uma mulher. Mas a mulher não precisa de viola, e de nenhum outro instrumento musical. Produz a mais suave melodia com as curvas do próprio corpo e com um único adereço dado por Deus consegue prender um homem facilmente.
E essa foi a primeira, de outra tantas vezes, que Sebastião se aprofundaria nesse mistério. Nem tinha tido o contato visual, foi algo muito de momento.Simplesmente, ainda muito menino, quando deu por si, já estava com a moça por cima, e a saia dela lhe tirando a visão. Mas sabia desde já que surgiriam outras oportunidades. De todas elas até hoje, uma lhe atormenta a memória de quando em vez.
O órgão feminino tem sua beleza quando bem conservado. É um deleite aos olhos, aquele chessburguer pequeno, compacto, com tudo muito interno. Ali sim, tem-se vontade de se apertar e encher de beijos. O problema foi que a ausência de contato com o bichinho, estava pertubando mentalmente o garoto. Diante disso, na calada da noite, não hesitou em recorrer ao favores da senhora que passava na rua. Não era nova, nem branca, nem magra. O jovem nunca tinha tido uma relação mais aproximada com alguém assim, mas não achou tarde para aproveitar. Convidou-a gentilmente para que dormissem juntos e ofereceu-se até para pagar a conta integralmente. Sebastião era moço e bem conservado, e decerto a negra estava com um superávit na balança da relação sexual. No entanto, ele não iria deixar tudo assim tão barato, aproveitaria para conhecer tudo que podesse e fodesse, e desde já imagina a infinitude de peripécias que poderia aprontar com aquela que se apresentava para o jogo.
E foi quando a viu deitada, completamente nua, e com as pernas abertas, que teve uma imagem que até hoje não lhe sai da memória. Aquela coisa desejada por tantos, já denominada inclusive de perseguida, devido ao alto número de pretendentes, se mostrava ali horrível e horrenda. Quis culpar os filhos que a coitada já tivera. Sintia uma náusea e nem sequer por um momento pensou em utilizar ali os dotes adquirindo nos oitos anos infantis debaixo do pé de manga da vovó. O vermelho intenso contrastava com o preto da virilha e algo escorria de dentro como uma lágrima sólida de sangue. Nem sabia como pôr aquilo de volta pra dentro, de onde nunca deveria ter saído.
Não agüentou, ordenou que se virasse. Não seria capaz de colocar sua ferramenta de trabalho dentro daquele local maldito. E embora idolatrasse a vulva pueril, que já tivesse inclusive feitos trovas em sua homenagem, aquela não era digna nem de uma cusparada. Pensou rápido. Não podendo ignorar a situação, seu esforço para chegar até ali e o tempo de ausência de um amor genital, achou por bem lhe invadir o sistema digestivo pelo final. E por mais merda que tenha por ali passado, ainda era em estética bem mais aprazível do que aquela imagem que lhe acompanharia os pesadelos de uma vida inteira. Que paradoxo!
O vesgo
Não foram os dois tragos de cachaça que lhe entortaram as vistas. Era assim desde novo, nascera assim. E muitos tomavam por motivo de galhofa a assimetria dos olhos do moço. Nada mais cômico do que a miséria humana com seus defeitos e suas aberrações.
É claro que todos os pseudônimos de infância abordaram essa característica. Assim acostumou-se ao fato de ter uma diferença facilmente perceptível em relação aos outros humanos que via. Nem lhe afetava objetivamente o fato, pois o hábito da leitura era constantemente desenvolvido sem a ajuda de óculos, lentes, lupas ou coisas que o valham. Aqueles olhinhos tortos já haviam degustados grandes clássicos da literatura mundial, incluindo obras premiadas com o Nobel. Até mesmo bem melhor que as denominações brasileiras para as pessoas com esse defeito, lhe cabia o vocábulo castelhano tuerto. Nem só dos olhos, percebiam os mais atentos, pois também tinha um ligeiro desvio do septo nasal. No entanto, assim tinha bem vivido – sem problemas com as letras miúdas dos romances clássicos, mas com problemas nos romances reais próprios da sua juventude.
No colégio, a cada série lhe surgia um novo apelido, e soava estranho aos ouvidos mais direitos, que se ouvisse falar de algum Evaristo. Apesar de ser um dos mais famosos rapazes da turma, se alguém vinhesse a perguntar por alguém de nome Evaristo em seus círculos de amizade, até os mais próximo, receberia com quase total certeza uma resposta negativa. Era incrível como a estranheza do olhar superava facilmente a estranheza do primeiro nome. Evaristo? Não. Mas vesgo, zarolho, cobre-e-alinha, frente-e-esquerda, e alguns outros era bem comuns ao conhecimento de todos. Quando começou a freqüentar as aulinhas de espanhol, os mais moleques tentaram diversas formas de troça – bizco, bisojo – mas o que pegou mesmo até pela melhor semântica foi tuerto. Cresceu assim, vendo o nome que sua mãe lhe dera apenas na carteira de identidade já desgastada pelo tempo. E poucos liam os dados de nome, filiação ou naturalidade de seu registro cadastral porque a simples comparação dos olhos vistos no documento e os olhos que se apresentam no rosto do dito cujo era mais do que suficiente para sua completa identificação.
Para que saibamos: vesgos também amam. Apesar de quaisquer aspectos físicos notoriamente diferenciais, o ser humano tem como um dos seus sentimentos naturais o amor. Ele só foi conhecê-lo quando, voltando da mercearia, viu um fichário do ursinho pooh no chão e ao lado dele, igualmente no chão, uma senhorita desapercebida que havia topado num sei-lá-o-que pelo caminho. Deu-lhe a mão que se reerguer-se e pegou o fichário, deixando escorrer um livro fino de seu interior. Sem ler nem sequer o título, abaixou-se novamente e devolvendo o escrito, comentou:
- Bom livro, moça.
Foi o suficiente. Ignorando a imperfeição dos olhos, agradeceu à cortesia com um sorriso. Não era um sorriso que se chame de bonito; a ausência de um canino, a cor escura de três dentes e a gengiva bem exposta não lhe permitiam o uso desse adjetivo – mas ria. Para personalizar o agradecimento e sem outras intenções, interrogou:
- Qual o seu nome?
E o silêncio pairou nos ares por um bom tempo. Procurava entre as várias denominações recebidas durante a vida, aquela mais real, que se registrava na certidão de nascimento. E apesar de desconfiar de duas, não tinha certeza de qual. Em um momento de meias certezas, quis lançar Tuerto, com inicial maiúscula, porém um nome extrangeiro poderia soar pedante. E naquele instante se deu conta do resultado da repetição constante dos pseudônimos em seus ouvidos: até então tinha sido muito mais vesgo do que homem.
quarta-feira, outubro 17, 2007
Necrofilia
E na mansão que reside o mistério
Entre as carnes putrefatas do dilema
Um sorriso incontido de poema
No cálcio morto de um dento em cemitério
E no crânio rachado do desvelo
Na ausência de idéias moribundas
Incrustada com raízes já profundas
A beleza dos cachinhos nos cabelos
Entre a miséria que nas covas jaz
Depois do álcool, já estando zonzo
Ver no complexo de um arco esconso
A perfeição que vem do arco capaz
E nos mamilos de uma morta-viva
Senti a rosa que em seu peito brota
E calculando e desenhando a cota
Nas agonias de uma Descritiva
Míope, lendo no epitáfio: “Aqui jaz Doris,
Morreu aos 15 e assim foi ninfeta
Gozou sentindo um prazer na teta
Que não sentira ainda em seu clitóris”
Amor de peugeot
Foi no ócio de uma tarde de sexta-feira que ele resolveu perambular. Foi aos bares de seu bairro, querendo afogar nos tragos a falta do que fazer. Seus amigos não bebiam, ainda eram muito moleques para se entregarem aos vícios. Nem decerto tomou dois copos, mas tomou, sim, a decisão de dar um passeio por terras já conhecidas. Pegou do carro de sua irmã e partiu. Parou no shopping, era caminho. Pesou-se na farmácia da entrada, pra não perder o hábito. 75 quilos, bom peso. E foi andando no meio de fliperamas e crianças que encontrou um olho verde brilhando. Não jogava, mas conversava com as amiguinhas, todas com a camisa do colégio. No meio delas, a vizinha de João que vendo um leãozinho da Peugeot escorrendo do bolso da calça do rapaz, enxergou ali também a carona para casa. Nem foi proposital a amostra do chaveiro, nem sabia ao certo como aquilo tinha lhe escorrido do bolso. A menina deu um sorriso, foi até ele, deu um abraço. Coisa de vizinhos. Trocaram aquela velha conversa fática de tudo bem, como vai e a família.
- Vem aqui, João, que eu te apresento umas amigas.
Não tinha cunho de relacionamento amoroso as apresentações que seriam feitas. Era extensa a diferença de idades, dificultando sobremaneira a possibilidade de um romance futuro. Mas nem sempre as regras do bom senso são seguidas. E ali, quando João viu Carina, que algumas vibrações do universo modificaram o rumo dos acontecimentos.
Nem foi preciso muita análise, e o moço já identificou o parentesco.
- Ah! Você é a irmã do Cláudio...
E o sorriso foi resposta. Resposta tão sincera que ele se ofereceu de motorista pras duas garotinhas. Sei que deve ser muito difícil acreditar, mas não foi o teto do 206 Moonlight que fez os olhinhos verdes de Carina brilharem mais um vez. Sim, aquele olho perto dos joguinhos já era o dela. Até tinha um charme o carro, mas o jeitinho que as pálpebras de João se fechavam ao sorrir fazia a pequena suspirar. Suspiros muito contidos, diga-se de passagem, contidos pela timidez. Pra não dizer que não falou palavra, ela disse um muito obrigado depois de dar um beijo no rosto. João chegou em casa e começou a reparar em coisas que já jamais tinha notado. Ao contrário das pernas de Manuel Fonseca, uma fina e outra seca, que tinha uma certa Sariema, a donzela era dona de pernas, digamos, de Manuel da Roça, uma cheia e outra grossa. Lembrou da pequena manchinha castanha que havia na íris esquerda de Carina e riu ao lembrar de quando a amiga apertou-lhes as coxas e brincou:
- Ô bichona...
E ainda contou uma rosa a mais no jardim que sua mãe cuidava em casa, que já havia há muito tempo, mas nunca tinha tido tempo de reparar. Até mesmo que a irmã havia cortado o cabelo, apesar dela só ter aparado as pontas. Pode tudo isso parecer uma bobagem fácil de se perceber, mas não para o cara que só se deu conta que haviam mudado todas as estampas das colchas de sua cama depois de um ano. Estava detalhista por demais. E recordava agora deitado na cama, olhando pro teto do quarto, a face doce e meiga de sua princesinha. O rosto liso, o dente branco, a sobrancelha fina, o beijo. Pensou até em grinalda, coisa que jamais havia feito.
Não foi por outra que não seja a sorte que João novamente viu Carina e dessa vez passeando pelas ruas do bairro. Sozinha, ia ao mercado comprar um condicionador para cabelos secos e quebradiços e um pacote de absorvente sem abas, tudo conforme as recomendações da mãe. Ele lhe pegou a mão e a acompanhou nas compras. Fez questão de presentear a prenda com um chocolate. Experimentado pela vida, antevia que aquele presente poderia adocicar o beijo certo que se aproximava. Não somente por educação, mas também com um pouco dela, convidou-a para ir à sua casa, nem que fosse para tomar um copo d’água. E na porta de casa tocou-lhe os lábios com seus lábios, numa ternura tão grande que mais uma rosa no jardim resolveu brotar só pra ver de perto aquela cena. Ele se aproximou das flores e tirou uma vermelha, não essa que acabara de brotar, porém aquela que ele havia notado o surgimento após o primeiro encontro com a donzela. E seguindo o cheiro bom da rosa, Carina entrou na residência que estava inabitada.
E houve beijos mais profundos, alguns menos. E houve emoções no abraço forte. E houve a cumplicidade do sorriso no amor mútuo da pessoa amada. Realmente a idade algumas vezes se torna um fator de diferenciação extrema entre um casal e convenhamos que as formas de amor já conhecidas pelo rapaz que ultrapassa os 20 diferem das conhecidas pelas meninas que ainda não chegaram aos 15. E, por isso, um beijo no seio já vira motivo de reclame da pequena. Ocorreram após mais dois encontros entre os dois, e apesar de Carina conter todos os possíveis avanços de João, isso não impedia que a afetividade entre os dois e o carinho crescesse cada vez mais. E João lhe recitava poemas, lhe fazia honras de princesa, e ela lhe retribuía nas eternas juras de amor eterno.
Apesar de todo carinho, respeito, beijinhos, sentimento, doçura, meiguice, amor e afeto que existia nesse romance, na sexta-feira seguinte, João não vou ao shopping. Muito menos, se pesou. Resolveu sim tomar umas nos bares do bairro, e depois, quando deu a hora, partiu para o Cabaré da Júlia e realizou tudo aquilo que tentou fazer durante a semana sem muito sucesso. Isso porque “apesar da força moral da tradição judaico-cristã e de a Justiça ter procurado purificar o pênis e restringir sua semente à instituição sagrada do matrimônio, ele não é por natureza um órgão monógamo. Desconhece códigos morais, foi projetado pela natureza para o esbanjamento, adora a variedade, e nada, exceto a castração, eliminará seu pendor para a prostituição, a fornicação, o adultério ou a pornografia”.terça-feira, outubro 16, 2007
Nasci gaúcho
De manhã cedo, eu parto pra lida
Tomo o mate da minha despedida
Até o ronco do último trago
Pra minha prenda deixo meu afago
E o amor que trago no peito
Posso ser grosso, mas é esse meu jeito
De reviver as coisas do meu pago
Dentro do rancho, pego os pelegos
E já começo a encilhar o pingo
Sinta na cara o vento de domingo
E no frio forte desse minuano
O meu tordilho já sai troteando
Porque le gusta viver na campanha
Como me gusta os tragos de canha
Que sempre tomo com o pai castellano
Nasci gaúcho, fronteiriço e do Rio Grande
Não há quem mande eu campear em outro pago
Porque aqui a tradição é mais antiga
E a cantiga no meu peito ainda trago
Por entre potros e tropéis numa rancheira
Numa chaleira esquentava água de rio
Pegava erva que havia em Livramento
Ainda dentro das campanhas do Brasil
Eu relembrava os tempos de Farroupilha
Pelas coxilhas procurava meu cambicho
E foi assim quando se menos se imagina
Que minha china conheci em um bolicho
Levo bombacha, botas e esporas
Porque assim se vive no galpão
E educar cavalo redomão
É fácil com meus pés roseteados
O pala velho, chapéu tapeado
E o galope ficando ligeiro
Quando acontece do peão campeiro
Chegar no pampa pra cuidar do gado
De longe escuto alguma chamarra
Que na querência era a mais tocada
E dê-lhe boca tocando a boiada
E o “êra boi” já vira um gritedo
O cusco velho não fica com medo
Nem com os gritos desses sapucay
Pois foi às margens do Rio Uruguay
Que educaram forte desde cedo
NumLock e cigarros
Fazia dois meses que ele tinha ido e, pelas contas dela, ainda faltavam pelo menos mais dois pra ele voltar. Mas sentia esses meses como se fossem anos, e às vezes chorava calada e sozinha lembrando do sorriso lindo dele. Nem sabia ao certo se ele resistia às seduções das meninas quando estava lá, mas quando estavam juntos, sentia um amor exclusivo e completo. Em algumas aulas, já nem mais se concentrava, calculando o delta t desse carinho nas equações que nem Bháskara ousou desvendar. Apesar de sua mão ainda poder sentir a presença do seio, seu coração já não estava lá. Estava longe, com asas da ilusão e do desejo, querendo de volta os momentos felizes que só ele lhe podia dar.
Num acesso de qualquer coisa repentina, chutou o mouse e viu na tela aquele beijo, agora eterno pelas modernidades fotográficas. Salivando, sentiu na língua como se a saliva não fosse sua, fosse dele. E até o seio estranhou a própria mão, como se também fosse dele. Perdendo-se na imaginação do bem amado, mal viu surgir os primeiros raios da aurora. Caiu em si e sentiu a tristeza de não o sentir mais. Quis chorar com os olhos secos da noite mal dormida, ou melhor, nem dormida. Foi ao banheiro, se olhou, se sentiu feia, e urinou como se quisesse soltar aquelas lágrimas presas, pela vagina.
Foi até a sala, tudo ainda escuro, salvo um raiozinho de sol vindo pela fresta debaixo da porta. Escutou a campainha num toque seco. Teria mandado tudo à merda e dormido se fosse um dia comum. Mas já estava há tanto tempo acordada e com tantos sentimentos dentro de si, que só pensou baixinho que merda e foi ver pelo olho mágico quem se atrevia. O que viu foram rosas. E por trás das rosas aquele que era seu sonho, seu homem, seu tudo. Ficou pensando se o olho era mágico, ou se mágica era a vida com suas idas e vindas. E sem pensar em como estava o cabelo ou na ausência do sutiã, abriu porta desesperada pela saudade e matou-a num beijo longo, com rosas no chão, onde o gosto dos cigarros foi rapidamente transformado na frescura de um halls vermelho. E quando acordou do sonho, estava na cama, sem rosas, sem ele, e lendo em grandes letras laranjas: “seu computador já pode ser desligado em segurança”.